domingo, 13 de julho de 2025

Francineide e a desconfiança

    

Francineide andava ressabiada com o marido, que parecia desinteressado na mulher. Será que ele estaria de caso com alguma mocreia? Tal pensamento não saía da mente da supostamente traída, que, não satisfeita em guardar para si tamanha angústia, foi desabafar com Rita, a melhor amiga.

          — Credo, Francineide! Será que o Augusto seria capaz de uma cachorrada dessas?

          — Num sei, mas que ele anda estranho, ah, isso anda, sim!

          — Vai ver ele tá trabalhando demais. 

          — E isso é lá desculpa pra negligenciar acordos firmados diante do padre?

          — É, amiga, você tem razão. Total razão!

          O que começou como tentativa de apaziguar a situação, acabou colocando ainda mais lenha na fogueira, mesmo porque, segundo Rita, Francineite não apenas tinha razão, como era dona totalmente dela. E, se a razão estava com ela, Francineide não teve dúvida quanto ao romance vivido por Augusto fora do casamento. 

          Decidida a emparedar o esposo, Francineide pensou na derradeira tentativa de dar o ultimato no sujeito. Pois comprou lingerie nova, o que, a seus olhos, seria a prova cabal de que o homem estava provando alpiste em outra cumbuca. 

          Assim que chegou do trabalho, Francineide tomou banho, se perfumou e vestiu a roupa íntima. Para completar, colocou uma camisola transparente. Não era possível que o marido não notaria, por mais exausto que chegasse do serviço. E foi dito e feito.

          — Meu amor, como você tá bonita!

          — Bonita?

          — Sim.

          — E por acaso estava feia?

          — Não.

          — Hum!

          — O que houve?

          — O que houve? Hum!

          — Sim, o que houve?

          — Pois é o senhor que precisa me dizer o que houve.

          — Não entendi.

          — Augusto, quem é a sirigaita?

          — Sirigaita? Do que você tá falando, Francineide?

          — Da outra que você tá saindo.

          — Eu? De onde você tirou isso, meu amor?

          — Da sua falta de interesse por mim.

          — Meu amor, querer eu até quero, mas como tirar a roupa nesse frio?

  • Nota de esclarecimento: O conto "Francineide e a desconfiança" foi publicado por Notibras no dia 13/7/2025.
  • https://www.notibras.com/site/marido-ausente-deixa-esposa-com-pulga-atras-da-orelha/

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