— Jaqueline, por que
não faz uma plástica?
— Plástica pra quê,
Judite?
— Ué, pra levantar o
que tá caído.
Caído? Pois aqui
estou diante do espelho, tão ou mais inquisidor do que os olhos que me julgam
quando vou ao clube. Será que perdi o direito de usar biquíni? Hum! Só falta
esse povo querer que eu venha de burca para a piscina.
Setenta e
quatro anos, quando por extenso, parecem ainda mais tempo. Gente, como cheguei
até aqui? Nem senti as décadas passarem. Ontem mesmo era eu uma menina correndo
por essa terra vermelha de Brasília. E não adianta tentar esconder a idade,
pois as marcas do rosto cismam em ser tão indiscretas.
Judite,
minha melhor amiga desde meu último divórcio, diz que é culpa do meu bom-humor.
Será?
— Ah, Jaqueline,
você vive gargalhando por tudo. Isso não é bom pra pele. Sua cara fica cheia de
marcas de expressão.
Hum! Além
de velha enrugada, também vou precisar ser rabugenta? Daqui a pouco é provável
que comecem a me chamar de Dona Casmurra. Logo eu, que sempre tive ímpeto de
Capitu.
— Amiga, se você não
consegue parar de escancarar esse sorriso contagiante, mas que te enche de
rugas, pelo menos se matricule numa academia. Na nossa idade, não podemos
vacilar com a perda muscular.
Pois é, e foi assim que a Judite me
convenceu a fazer ginástica. Quer dizer, malhar ou treinar, como os jovens
dizem atualmente. E não falto nem mesmo um dia sequer. Se bem que, devo
confessar, vou naqueles passinhos de formiga para a academia. Mas vou!
- Nota de esclarecimento: O conto "Jaqueline e os conselhos da amiga" foi publicado por Notibras no dia 18/7/2025.
- https://www.notibras.com/site/posso-ser-velha-mas-vou-continuar-usando-biquini/
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