segunda-feira, 30 de setembro de 2024

O infiltrado

    

            Os que acompanham minhas crônicas sabem que sou casado com a famosa Dona Irene, a mais fanática torcedora do Palmeiras. Moramos em Porto Alegre, mas, de vez em quando, pegamos um voo até Brasília. É uma excelente oportunidade para a minha esposa visitar os pais, bem como para eu encontrar os colegas de Notibras. 

          Pois bem, da última vez que estivemos na capital, a minha amada e uma das nossas sobrinhas, a Jojô, foram assistir ao jogo entre o Verdão e o Vasco da Gama no estádio Mané Garrincha. Esse evento, aliás, aconteceu no dia 22 de setembro de 2024.

          Frequentadora calejada dos estádios pelo país afora, a Dona Irene proporcionou algo inédito na vida da Jojô, que nunca tinha tido a oportunidade de ir a um jogo de futebol. E lá foram as duas para aquele que pode até não ter a fama do Maracanã, mas carrega o nome do maior jogador das Copas do Mundo, o Anjo das Pernas Tortas, a Alegria do Povo. 

          Minha mulher e nossa sobrinha chegaram cedo ao Mané Garrincha, tanto é que o local estava quase vazio. E, para surpresa das duas, um senhor de aproximadamente 80 anos se sentou justamente ao lado delas, enquanto milhares de outras cadeiras continuavam vazias. A princípio, a Dona Irene e a Jojô não ligaram, mesmo porque estavam ali para assistir ao time do coração. 

          O local começou a encher aos poucos até ficar lotado. Pois é, as duas torcidas estavam animadas para ver um dos maiores clássicos do futebol mundial. E, entre todo aquele povo, a Jojô parecia a mais ansiosa. Tanto é que, assim que o escrete alviverde despontou no gramado, ela começou a esgoelar que nem doida. Até a Dona Irene, acostumada com tal situação, não ficou para trás e também berrou que nem uma maluca. 

          Após se acalmarem, a Dona Irene sacou seu celular do bolso e tirou algumas fotografias, inclusive uma que colocou uma pulga atrás da sua orelha. É que aquele senhor estava com uma fisionomia estranha, como se estivesse contrariado de estar ali. Estaria ele passando mal ou, então, o caso era outro?

          A Jojô, curiosa que nem a tia, começou a investigar aquela situação. No entanto, eis que o juiz apita e o jogo inicia. Bola pra cá, bola pra lá, os dois times se estudando nos primeiros minutos. Dessa forma, a atenção das duas torcedoras estava voltada para o campo. 

          Numa bobeada da defesa do Vasco, o centroavante Flaco López abriu o placar aos 26 minutos do primeiro tempo. A minha mulher e a Jojô pularam, gritaram, se esgoelaram, falaram todos os palavrões conhecidos e inventaram outros tantos, enquanto a estrutura do Mané Garrincha aguentava firmemente todos os demais torcedores palmeirenses fazerem o mesmo. Que alegria!!!

          Após alguns minutos, os ânimos se acalmaram e a partida recomeçou. Mas eis que a Jojô cutucou a Dona Irene. 

          — Tia, reparou que o senhor ao meu lado ficou sentado o tempo todo?

          — Não. Será que ele é?

          — Pois é... Você sabe que pensei o mesmo? 

          — Jojô, reparando bem, agora tenho certeza de que ele é.

          — Por quê, tia?

          — Disfarça e olha a cara dele.

           Nisso, a Jojô olhou discretamente para o velho, que estavam com uma expressão de bravo. Ainda desconfiadas, as duas ficaram monitorando o homem para não cometerem alguma injustiça. Vai ver, o cara estava com dor de barriga ou algo do tipo.

          Já na segunda etapa da partida, o árbitro marcou uma falta a favor do Vasco. O VAR, em seguida, chamou a atenção da autoridade máxima e disse que o lance teria acontecido dentro da área. E lá foi o juiz analisar o lance e, para alegria da torcida do Palmeiras, decidiu que não foi pênalti. 

          Não estou aqui para dizer que a decisão foi acertada ou não, mesmo porque não me cabe tal juízo. No entanto, foi justamente nesse momento em que a Dona Irene e a Jojô concluíram as investigações. É que aquele sujeito, sentado ali ao lado, apesar de trajar a camisa do Palestra Itália, começou a xingar o árbitro. Não restava dúvida, ali estava um vascaíno infiltrado na torcida do Palmeiras. 

  • Nota de esclarecimento: A crônica "O infiltrado" foi publicada por Notibras no dia 30/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/xingamento-a-juiz-desmascara-vascaino-infiltrado-na-torcida/



domingo, 29 de setembro de 2024

O dia em que o Eduardo Martínez morreu

          Eis que estou preparando o café da manhã para a minha amada, a famosa Dona Irene, quando ouço o barulho de mensagem chegando pelo WhatsApp. Normalmente, nem me dou ao trabalho de olhar o celular antes de terminar de fazer o pão frito e o café com leite da minha mulher, mas eis que ela me grita: "Edu, o Leandro mandou uma mensagem pra você!"

          Trata-se do professor de literatura Leandro Mendes, lá de Brasília, que utiliza meus contos e crônicas nas aulas. Dessa vez, recebo um lindo desenho feito por um dos seus alunos, o João Victor. Obviamente que meu ego vai às alturas, até que a minha esposa me grita de volta para a realidade: "Edu, tem que trocar a fralda da Malulinha!"

          Pois é, para quem pensa que vida de escritor é cheia de glamour, digo que não é bem assim. Não que esteja reclamando, pois adoro a minha profissão, que me dá oportunidade de conversar com leitores, seja através de mensagens na internet, seja nas escolas que sou convidado, seja até mesmo na rua, quando alguém me para: "Ei, você é o Eduardo Martínez?"

            Hoje, no entanto, quero falar de algo que aconteceu na última quarta-feira, dia 25 de setembro de 2024. É que nessa oportunidade também ouvi a doce voz da minha esposa: "Edu, chegou mensagem no seu celular. É do Leandro!"

            E lá fui olhar a mensagem do meu amigo. Era um áudio. Ele dizia que estava utilizando mais um dos meus textos em sala de aula. No entanto, o Leandro pediu para que seus alunos fizessem uma pesquisa na internet sobre mim. Não demorou, os alunos falaram: "Professor, esse Eduardo morreu!"

        O Leandro tomou aquele susto e, em seguida, percebeu que os alunos haviam feito a pesquisa de forma equivocada. Os estudantes, depois, colocaram meu nome corretamente e, então, descobriram um pouco sobre mim. 

           Assim que terminei de ouvir o áudio do Leandro, comecei a gargalhar. A Dona Irene veio me perguntar se eu estava bem, quando coloquei a mensagem para ela ouvir. Não tardou, lá estávamos nós dois rindo juntos. Mas a coisa não parou por aí. É que não resisti e mandei o áudio para alguns amigos, que me mandaram várias mensagens divertidas.

             "A internet matando o Eduardo Martínez, olha só."

          "Ai, credo!!! Que mané morreu! Graças a Deus vivinho da Silva e vendendo saúde. Que legal esse professor!"

           "É porque te acharam do nível do Machado de Assis. Pensaram: Autor bom assim não é dos tempos atuais."

          "Isso dá uma boa história: o dia em que o Eduardo Martínez morreu e viveu... Em uma bela quarta-feira tive a triste notícia do meu falecimento..."

               "Depois que o escritor morre é que aparece o gênio e o bicho bomba muito."

               Entre tantas mensagens, pensei que talvez devesse mudar meu nome para algo mais incomum. Entretanto, creio que fazer isso após 20 anos de ofício não seria prudente. Ademais, quem mandou eu ter o mesmo nome de outros tantos? Sorte do poeta e escritor Daniel Marchi, que nasceu com o sobrenome mais raro. 

             Como falei, a vida de escritor não é a que algumas pessoas imaginam, que seja repleta de noites de autógrafos, entrevistas, críticas positivas vindas de toda parte. Tenho cá algumas fraldas para trocar. Todavia, esses momentos inusitados me dão a certeza de que vale a pena tanta dedicação. 

  • Nota de esclarecimento: A crônica "O dia em que o Eduardo Martínez morreu" foi publicada por Notibras no dia 29/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/zap-anuncia-o-dia-em-que-o-eduardo-martinez-morreu/

sábado, 28 de setembro de 2024

Paixão na terceira idade

    

Não que Laureano fosse um completo imbecil, mas os que o conheciam afirmavam que o gajo estava bem perto de se tomar para si o título de mais ingênuo bípede que andava pela disputada praia de Arapuama, na cidade do Cabo de Santo Agostinho-PE. Ele, aliás, que vivera a puberdade na turbulência dos anos 1960, agora gozava a aposentadoria em uma bela casa no famoso balneário. 

          Solteiro por conta da dedicação praticamente exclusiva ao serviço público por quase quarenta anos, caso não fosse a paixão por damas, que lhe tomava o tempo restante em partidas infindáveis com dois amigos, Laureano se aproximava dos 70 anos. Não que o homem não tivesse tido uma vida amorosa, mas nada além de breves romances que se foram com a chegada dos outonos. 

          A residência do velho fazia fronteira com o lar de Gilda, com quem regulava em idade. Viúva, fogosa que nem Gabriela, parece que teve diversão muito além do casamento. E, a despeito do avançar dos anos, mantinha a pele viçosa, talvez por conta de uma receita que aprendera ainda mocinha, cuja compostura deste contador de causos não permite dizer qual. Que a imaginação da leitora ou do leitor tenha a liberdade necessária para supor o que quiser. Afinal, o pensamento é livre!

          Mas voltemos à história, antes que alguém resolva dirigir impropérios à minha pessoa. Então, como ia dizendo, Gilda e Laureano eram vizinhos e desimpedidos, uma combinação fatal para enlace amoroso. É verdade que muito mais pelas intenções da mulher, que fazia reposição hormonal para não perder o rebolado. Quanto ao septuagenário, tudo indicava que estava disposto a trocar as damas pela dama, que, naquele domingo, lhe pareceu muito mais atraente. 

          Não foi preciso convite para cinema ou jantar à luz de velas. Direta que era, Gilda, após uma água de coco num quiosque à beira da praia, segurou a mão de Laureano e o levou para debaixo dos lençóis. Tiveram uma tórrida manhã de amor, isto é, levando-se em conta a idade e condição física do amante. 

          A velha, mais que calejada, poderia ter dispensado o vizinho após a performance, mas não o fez. Nem ela soube explicar o motivo pelo qual ainda quis se relacionar com Laureano. Quer dizer, não soube até o último encontro dos dois. É que, após se amarem, o casal teve o seguinte interlúdio:

          — Gilda, meu amor, acho que estou apaixonado por você.

          — Adoro essa sua maneira de ver a vida, Laureano.

          — Como assim?

          — É que você se ilude de um jeito tão fofo.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Paixão na terceira idade" foi publicado por Notibras no dia 28/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/paixao-em-praia-do-cabo-acaba-em-cabo-sem-esperanca/

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

A velha e a inhaca

    

               Solange, viúva aos 83 anos, tratou de vender o amplo apartamento na Asa Sul e foi se embrenhar para os lados de Sobradinho, onde alugou uma quitinete. Velha que estava, não precisaria lidar com um imóvel enorme. Afinal, bastariam uma boa cama para deitar a carcaça e uma poltrona confortável para passar os dias no que mais amava: ler poesias.

          Pois bem, lá estava a idosa entretida com o livro "A verdade nos seres", do poeta Daniel Marchi, quando algo começou a incomodá-la. Que cheiro era aquele? A mulher ergueu o livro bem perto do nariz. Não! Daquelas páginas só era possível sentir o aroma de um jardim florido. 

          Curiosa que era, Solange olhou as solas do chinelo. Nada! Também, como poderia ter algo ali, se ela não saía do cubículo há quase dois dias? Decidida a desvendar aquele mistério, a senhora vasculhou todo o ambiente, que, de tão pequeno, foi percorrido em não mais de dois minutos, apesar dos passos vagarosos. Nadica de nada! 

          Que catinga era aquela? Foi até a janela, olhou pela fresta. Abriu-a toda, momento em que o fedor invadiu as narinas. Que inhaca!

          A mulher esticou o pescoço e percebeu que saía fumaça da janela ao lado. Fez cara de braba e foi até a cozinha. Encheu uma caneca com água da torneira e se dirigiu à porta do vizinho. Um homem, não mais de 50 anos, abriu a porta. Charuto na boca, o morador sorriu para a velha. 

          Solange, sem pensar em algo melhor, sorriu todo o cinismo que lhe cabia. Jogou a água na cara do morador e foi embora. O homem, rosto molhado e charuto apagado, parece que entendeu o recado. Mudou-se no dia seguinte.

  • Nota de esclarecimento: O conto "A velha e a inhaca" foi publicada por Notibras no dia 27/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/viuva-provoca-e-vizinho-e-obrigado-a-se-mudar/

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Milinho

    No Rio, costumamos chamar de aipim, assim como em Porto Alegre. Já em Brasília, percebo que boa parte das pessoas parece que preferem falar mandioca, se bem que macaxeira fica ali coladinho. Mas não estou aqui para falar dessa iguaria que arrebenta a minha dieta, ainda mais se frita. É uma perdição! 

          E não me venham com batata frita, que até gosto, mas não chega nem perto da nossa brasileiríssima maniva, também conhecida por castelinha. Eita, Brasil grandão, onde para cada região tem pelo menos um nome diferente para esse alimento que está entranhado nas nossas raízes. Aliás, para quem não sabe, o aipim é mesmo uma raiz. 

          Seja qual nome você escolher, repito, não estou aqui para falar desse que, junto à carne de sol, é o meu prato favorito, ainda mais quando regado à manteiga de garrafa. Pois o assunto é outro, que há tempos conheço como sete e meio, que é uma espécie de jogo de cartas similar ao vinte e um, tão comum nos cassinos.

          Também não vou aqui me preocupar em dar explicações sobre regras, pois esta é uma crônica e não um manual de jogos. Pois bem, lá estávamos a minha filha do meio e eu brincando de sete e meio, quando ela teve a ideia de trocar os feijões por notas de outro jogo, banco imobiliário. Fizemos a divisão das cédulas e começamos a jogar.

          Entre uma partida e outra, dependendo das cartas em nossas mãos, apostávamos mais ou menos. É óbvio que, de vez em quando, blefávamos. E tudo acontecia com as deliciosas gargalhadas da minha menina, quando ela, audaciosa que sempre foi, deixou de baixar as notas de um, dois, cinco, dez, cinquenta, cem e até as de quinhentos e, sem qualquer aviso, lançou-me aquele olhar desafiador e tacou uma de mil na mesa. Mesa que nada! Estávamos brincando no tapete da sala.

        Mas voltemos a esse momento que, definitivamente, mudou para sempre o nome desse jogo. Minha filha, ao mesmo tempo que jogou a cédula de mil no meio do tapete, me desafiou com um gritou.

        — Milinho?

        Sem para ter onde correr, tive que encarar aquela petulância. Escolhi uma cédula novinha de mil e a depositei sobre a dela. É verdade que era nítida a minha hesitação, mas tentei não demonstrar qualquer ponta de medo.

        — Milinho!

        Seguiram-se segundos de angústia, até que a minha filha virou as cartas, um sete de copas e um valete de paus. Sete e meio. Quanto às minhas cartas, eu havia blefado, pois já havia estourado: duas cartas de quatro e uma de dois. Mas isso não importa, pois, a partir daquele momento, passamos a chamar o sete e meio de milinho. 

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Milinho" foi publicada por Notibras no dia 25/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/aipim-macaxeira-mandioca-e-milinho-sem-sabugo/

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Um feirante na vida da Gracinha

    

    Quem vê aquele casal sorrindo nem imagina que, não faz muito tempo, só havia rusgas entre os dois. Quer saber o que aconteceu? Pois bem, sente-se por alguns minutos, aproveite para tomar um café, que a história é, no mínimo, curiosa. Aliás, mais uma das inúmeras que acontecem aqui na nossa linda e disputada João Pessoa. 

          Como você pode perceber pelos trajes, o homem é um feirante e vende legumes e verduras. Quanto à mulher, não daria para saber ao certo a profissão pela roupa. No entanto, caso fôssemos analisar, não seria improvável que a moça fosse médica, professora, engenheira ou até mesmo advogada. 

          Não é nada disso. Como sei? Simples. É que eu a conheço de longa data, já que ela é proprietária de um restaurante na rua de trás. Aliás, caso você seja apreciador de comida boa e barata, recomendo dar um pulo lá para experimentar. Mas voltemos ao acontecido, antes que seu café esfrie e você vá embora sem matar a curiosidade. 

          O gajo se chama Carlos, mas todos o conhecem por Bigode. Obviamente que não vou precisar explicar o motivo do apelido, haja vista a vastidão de pelos que o feirante tem sob as ventas. Já a mulher tem um nome tão gracioso, que não poderia ser outro: Maria das Graças. Todavia, os mais próximos a chamam de Gracinha. 

          E lá estava a Gracinha, num longínquo domingo ensolarado como este, desfilando toda a sua beleza em busca de alface e tomate para a sua dieta. Não que ela precisasse, tamanha formosura que, como você pode constatar, é própria daquela mulher. Nessa ocasião, Gracinha era nova por aqui, não conhecia muita gente, e o povo só sabia que ela era a dona da então nova padaria do bairro. 

          Pois bem, a mulher, não se sabe por qual carga d'água, enquanto observada aquele monte de legumes e verduras expostos na banca, teve um tremelique e quase se estabacou no chão. Só não estabacou porque o Bigode, com um movimento ligeiro que nem macaco-aranha, segurou a cliente. Em seguida, o feirante, com seus braços fortes, carregou a desfalecida para debaixo da tenda para protegê-la do forte calor. 

          Enquanto o feirante passava um pano umedecido na testa da Gracinha, eis que ela, de repente, começou a recobrar os sentidos. O problema é que a moçoila, assustada com aquele homem, arregalou os olhos e esbravejou.

          — Tire esse bigode de perto de mim, seu tarado!

          Gracinha se levantou e saiu apressada do local. Somente na semana seguinte é que ela retornou para a feira para se desculpar pelo mal-entendido. Tanto é que a moça foi até a banca do Bigode para agradecê-lo.

          — Desculpe, mas foi o senhor que me salvou de cair no chão, não foi?

          — Foi, sim, senhora.

          — Você sabe que quase não o reconheci sem o bigode?

          — Raspei porque pensei que a senhora não tivesse gostado.

          — Pois saiba que acho homem de bigode um charme. 

          A partir daquele dia, a mulher se tornou freguesa das mais assíduas. Dizem até que, quando ela não pode ir à feira, o Bigode faz questão de levar os produtos até a sua residência. E como o povo gosta de falar, já tem gente jurando de pé junto que aqueles dois já extrapolaram a barreira da amizade. 

  • Nota de esclarecimento: "Um feirante na vida da Gracinha" foi publicado por Notibras no dia 24/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/feirante-de-joao-pessoa-entra-na-vida-de-gracinha/

É Belchior, mas pode chamar de Gal

    

Creio que já contei que a minha esposa, a famosa Dona Irene, tem duas filhas com cara de buldogue, justamente porque são duas lindas cadelinhas dessa raça, ambas nascidas em Brasília. Duas meninas, quero deixar bem claro, pois, por conta do nome de uma delas, não raro, há confusão. 

          Uma se chama Clara Nunes, mas todos a chamam de Clarinha. Todavia, o problema não é com ela, e sim com a sua irmã, cujo nome é Belchior, que, aqui em casa, é mais conhecida por Bebel. Coisas de família. 

          Por causa do nome escolhido pela minha esposa, é muito comum as pessoas perguntarem se a Belchior é macho. A Dona Irene, nessas horas, faz aquela cara e diz que não. Onde já se viu alguém imaginar que a Bebel é um garoto? Olha para essa carinha tão de menina!

          A despeito de tantos entreveros, houve um que me causou uma crise de risos. E aconteceu justamente no cachorródromo do Tesourinha, aqui em Porto Alegre, onde costumamos levar as meninas para brincadeiras com seus amiguinhos caninos. A Clarinha e a Bebel adoram tais momentos e, enquanto elas correm para todos os lados, a Dona Irene e eu ficamos num canto sentados em cadeiras de praia, quando conversamos amenidades ou lemos algum livro.

          Pois bem, lá estávamos entretidos com o livro de poesias "A verdade nos seres", do poeta Daniel Marchi, quando ouvimos uma voz feminina gritando, como se querendo chamar a atenção de alguém.

          — Gal! Gal! Gal, venha aqui! Olha a bolinha!

          A Dona Irene e eu olhamos para aquela mulher, que logo se aproximou e puxou conversa com a minha mulher.

          — Ah, essa Gal é mesmo uma espoleta. Corre tanto, que ninguém pode com ela.

          — O nome dela é Belchior! - minha esposa disse.

          — Belchior? Ué, mas não é uma menina?

          — Sim!

          — Mas por que ela se chama Belchior?

          — Por causa do Belchior. Sou muito fã dele.

          A mulher pareceu ainda mais confusa com a explicação da minha esposa. Por isso, eu me intrometi na conversa, mesmo porque queria logo voltar para a leitura das maravilhosas poesias do Daniel Marchi.

          — É Belchior, mas você pode chamá-la de Gal, Elza, Beth, Bethânia, Alcione. Não faz a menor diferença. É que ela nunca atende mesmo.

  • Nota de esclarecimento: A crônica "É Belchior, mas pode chamar de Gal" foi publicada por Notibras no dia 24/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/e-belchior-irma-de-clara-mas-pode-chamar-de-gal/

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Manso que nem ovelha, mas nem tanto

    

    Carmelo era uma ovelha, difícil de ficar aborrecido. No entanto, quando a zanga o tomava, era difícil de recolocá-lo no prumo. Rodava a língua afiada para todo lado, palavrão é que não faltava. Até a dona Laura, vizinha afamada pelas caridades que fazia, perigava ser alvo de algum impropério. 

          Casado com Juliana há quase duas décadas, poderíamos afirmar que praticamente não ocorria desavença entre os dois. Brigona que era, a mulher sabia se impor e, caso precisasse levantar a voz, a única que seria ouvida naquela casa seria a dela. E ai do Carmelo reclamar. Era, por baixo, dois dias dormindo no sofá. 

          O homem, acostumado que estava em engolir desaforo da esposa, tratou logo de arrumar uma válvula de escape para os momentos de descontrole. Mas não pense você que foi coisa fácil de descobrir. Não mesmo!

          Tentou caminhar, mas logo percebeu que gastaria a sola do sapato antes que a raiva fosse dissipada por completo. Correr também não serviu para tal propósito, já que o fôlego de fumante inveterado o dissuadiu da ideia. Um amigo o convidou para jogos de poker, mas a sorte não andava ao seu lado.

          Quase desistindo, Carmelo, logo após levar uma bronca daquelas da Juliana, foi até a varanda do apartamento para gritar o grito dos enraivecidos quando, por um desses acasos, avistou um velho sentado no banco da pracinha ao fundo. O sujeito parecia entretido na leitura de um livro, cuja capa era difícil de ser notada.

          Curioso, Carmelo desceu as escadas e foi em direção ao senhor, que ainda mantinha os olhos direcionados para as páginas repletas de letras. Por um instante, o leitor observou o homem se aproximando e, antes de se apresentarem, retirou do bolso do paletó outro exemplar de "A verdade nos seres", do poeta Daniel Marchi, e o entregou a Carmelo.

          — Meu amigo, pela sua cara, você está precisando de um pouco de poesia na vida. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "Manso que nem ovelha, mas nem tanto" foi publicado por Notibras no dia 23/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/carmelo-manso-como-ovelha-tinha-la-suas-iras/

sábado, 21 de setembro de 2024

Um outro caso de Romeu e Julieta

          

         Julieta, aos 20 anos, conheceu o seu Romeu, que, por esses acasos da vida, nascera exatamente na mesma data que ela. A moça, no entanto, era mais experiente por questão de minutos. Isso, aliás, era motivo de brincadeiras do tipo "Me respeita, que sou mais velha!"

          Romeu, que sempre fora afeito a obedecer, aceitou de bom grado aquele mando e desmando de Julieta. Tanto é que, um mês após se conhecerem, ela o intimou a ser seu namorado. O rapaz nem cogitou refugar e, no final do ano, já estavam casados de papel passado.

          O casal, alguns poderiam dizer, não completaria bodas de papel. Ledo engano, pois, após quase quarenta anos de união, Julieta e Romeu estavam para completar bodas de esmeralda. Desavenças, é óbvio, que também aconteciam de vez em quando, mas nada que fugisse do normal entre duas pessoas que vivem juntas. Seja como for, tais querelas nunca ganhavam corpo, tamanha a impetuosidade da esposa.

          Não pense você, a propósito, que Julieta fosse uma megera. Tal pensamento, aliás, seria uma injustiça com aquela mulher, que também sabia ser carinhosa e fazer o marido ter lá seus tremeliques. Mas deixemos a intimidade matrimonial e tratemos de outros assuntos.

          Pois bem, lá estavam os dois pombinhos deitados na rede da varanda, quando o agora sessentão Romeu deu um carinhoso beijo na face rosada da amada. Ela fechou os olhos e sorriu aquele sorriso de quem sabe que havia escolhido o homem certo para casar. E foi justamente nesse momento que o homem, segurando a mão da esposa, propôs o seguinte interlúdio.

          — Julieta, meu amor, será que consigo chegar aos 80 anos?

          — Não sei, mas se você conseguir, quero viver pelo menos até os 90.

          — Por quê?

          — Pra eu ter pelo menos 10 anos de paz.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Um outro caso de Romeu e Julieta" foi publicado por Notibras no dia 21/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/brasilia-assiste-a-um-outro-caso-de-romeu-e-julieta/

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Lembranças do Natal de 1962

 

        Desde que minha avó materna se foi, nunca mais os Natais foram os mesmos. Ela era a matriarca da família e, do alto de tamanha e doce autoridade, fazia-nos rumar para a farta ceia, sempre posta na enorme mesa de madeira na sala de jantar. É engraçado falar assim, pois hoje moro em um mísero apartamento, onde mal cabe uma mesa para dois lugares na cozinha minúscula. Quanto à sala, além do sofá puído, dorme uma televisão pregada na parede.

          De todos os Natais que passei na casa da minha avó, o primeiro que me recordo foi em 1962, quando estava prestes a completar seis anos. Sei porque passei a noite inteira envergonhado por conta de uma coisa que, hoje, me parece tão boba. Mas não devemos menosprezar as agruras das crianças, que possuem lá suas aflições.

          Papai estava colocando os presentes no porta-malas do carro, quando me aproximei. Ele sorriu e disse para eu ir chamar mamãe e meus irmãos para não nos atrasarmos para a ceia na casa dos meus avós. No entanto, certamente por curiosidade, quis saber qual daqueles embrulhos era o meu. Meu velho apontou para o maior e, impetuoso que era, quis abri-lo ali mesmo. Meu pai me impediu, mas não antes de eu conseguir rasgar o papel que o cobria.

          Não demorou, todos estávamos dentro do automóvel a caminho da festa de Natal. No entanto, meu pensamento era com aquele rasgo feito no meu presente. Será que alguém iria notá-lo? Que vergonha! Eu, que já não era de falar muito, fiquei mudo durante todo o trajeto.

          Assim que papai estacionou, fomos recebidos pelos familiares. Beijos, abraços, que até hoje não me recordo, pois não conseguia tirar da mente aquele meu imprudente ato. Por que eu havia feito aquilo? De tão envergonhado, imaginei que todos ali lançavam olhares inquisidores sobre mim. Para piorar, o meu presente, o maior de todos, foi colocado em posição de destaque debaixo da enorme árvore de Natal. 

          Enquanto meus irmãos e primos ansiavam pela chegada da meia-noite, eu me esgueirava pelos cantos, como querendo que aquele pesadelo acabasse o mais rápido possível. Para piorar, aquele que seria o meu presente parecia me encarar como se querendo dizer: "Lúcio, você deveria ter vergonha do que fez. Olha como todos os outros presentes estão embrulhados. Só o seu que está com esse rasgo. Que vergonha!"

          E lá estava eu repleto de culpa quando vovó anunciou que o tão esperado momento havia chegado. Foi uma correria para debaixo da árvore. Em minutos, todos os embrulhos foram abertos, menos o meu, que continuava ali imóvel me encarando. Foi preciso minha mãe me cutucar e perguntar onde estava o meu presente. Abaixei os olhos e chorei. Minha avó percebeu e se aproximou.

          — O que foi, Lúcio?

          — Eu rasguei o papel do meu presente.

          — E daí, meu amor? O que importa não é o pacote, mas o que está dentro.

          Levei décadas para entender as palavras da minha avó. Ela era tão sábia. Entretanto, o rasgo naquele papel colorido, vez ou outra, ainda é algo que me perturba.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Lembranças do Natal de 1962" foi publicado por Notibras no dia 17/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/lembrancas-doloridas-de-um-longinquo-natal/

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A memorável vida que nunca tive

    

                Desde menino rodo a minha Salvador numa página do tempo, como se dono do meu destino. Ledo engano, ainda mais que estou no epílogo da vida. Será que estou lendo o último parágrafo? Ou será que já comecei o dia na derradeira linha, que fatalmente terminará com o ponto final?

          Tenho pensado muito numa época que minha avó me contava histórias da sua infância. De tão distante, creio que o mais apropriado seria usar era e não época. Seja como for, ainda me lembro de duvidar de vovó, como se ela sempre tivesse sido velha. Na verdade, naqueles idos, ela era bem mais nova do que sou hoje. E eis que estou com aquela vontade de colocar todas essas memórias no papel, mas me falta talento ou, então, medo de perceber que a minha existência foi medíocre. 

          Nunca me casei. Apesar da minha aparência pouco agradável, não me faltaram pretendentes, a maioria mais digna do que o meu insignificante ser. No entanto, é lógico que me envolvi com algumas mulheres, mas, quando a felicidade começava a querer se instalar, algo me repelia. Como sempre fui um covarde, inventava alguma coisa para instigar a então amada a me dar um fora. 

          E se não quis me casar, também jamais tive vontade de ter filhos. Provavelmente por opção ou falta de coragem de dividir meu tempo com alguém que precisaria depender de mim por muitos anos. E não me venha com críticas a respeito disso, pois até hoje não sou autossuficiente para atender às mais básicas necessidades. Imagine se eu tivesse que me preocupar com as de outro alguém. Nem cachorro quis ter, apesar de sempre considerar essa hipótese, que nunca foi além de impulsos logo contidos pela razão. 

          Também nunca plantei uma árvore além daqueles feijões depositados em chumaço de algodão embebido em água na escola. E nem mesmo uma mísera daquelas sementes germinou, como se já prevendo meu destino infrutífero. Por conta disso, sempre imaginei que feijão possui cérebro ou algo que o valha, pois impediram que aquele garoto cometesse o desatino de querer formar uma família. 

          Mas e um livro? Ando com essa irresistível vontade de escrever um, desde que não me cause tédio. Todavia, para não provocar fastio, eu precisaria fugir da minha desinteressante existência. E mentirei descaradamente para o leitor se deliciar, se surpreender e, o mais importante, sentir aquela retumbante inveja da magnífica vida que levei. 

          Pelas batalhas vencidas, serei comparado a Napoleão; pelas conquistas amorosas, nem Don Juan será páreo. Destemido que fui, serei assunto nas rodas de conversas de gente que nunca vi. Miserável que fui em vida, serei celebrado pelas memórias que estarão eternamente impregnadas nas páginas que escreverei. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "A memorável vida que nunca tive" foi publicado por Notibras no dia 16/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/velho-saudosista-marca-em-livro-vida-que-nunca-teve/

Mais enrolado do que briga de polvo

    

Almir era sujeito faceiro, garboso até dizer chega, mas tinha lá seus defeitos. O mais flagrante era que o cabra, quando queria, podia ser mais enrolado do que briga de polvo. Se dizia uma coisa, facilmente desdizia o que disse ou, pior, assumiria que jamais teria dito. E assim levava a vida, como se todos devessem acreditar em tanta armação. 

    Não se pode afirmar, entretanto, que Almir estivesse de todo errado quando o assunto era o desgosto por trabalhar. Afinal, quem, em sã consciência, o faz por prazer? Mas ele não havia nascido milionário nem mesmo poderia ser considerado pertencente à tão almejada classe média alta. Era, no máximo, média medíocre e olhe lá. Por isso, fazia-se necessário labutar para conquistar o quinhão que lhe fizesse manter a despensa abastecida com o suficiente, para caso de, valha-me Deus, fosse demitido. 

    Como o leite das crianças precisava ficar garantido por, ao menos, um mês, o homem até que tentava se esforçar, mas a sua natureza, nem sempre, colaborava. Que a culpa caísse, portanto, sobre ela! Ainda mais porque o acontecido caiu logo numa segunda-feira, cuja terça seguinte nem era feriado.

    Antônio, patrão do Almir, já estava mais angustiado do que piolho em cabeça de careca, cuspia marimbondos e lacraias por mais aquele atraso do funcionário. Cadê aquele maldito? Onde será que se meteu o pilantra? Só falta chegar aqui no final do expediente com aquela cara lavada para dar a desculpa mais estapafúrdia. 

    De tão nervoso, Antônio telefonou dezenas de vezes pro Almir, mas só ouvia a mensagem de que o celular estava desligado ou fora de área. Fora de área ficaria o salafrário, ou melhor, a vontade do patrão era dar uma bicuda no traseiro do subordinado para que ele nunca mais aparecesse. Tentou até se acalmar, mas trocou o chá pelo cafezinho, o que o fez ficar ainda mais transtornado.

    Quase duas da tarde, lá foi o patrão tocar a campainha da residência do Antônio. Tocou, tocou, tocou! Mas nada! Será que ele havia saído? Esmurrou a porta, até que, finalmente, surgiu o gajo, com remela nos olhos de tanto dormir. 

    — Seu Antônio, acredita que até agora estou procurando as chaves do carro? 

    — Ah, é? E faz quanto tempo que você acordou agora?

  • Nota de esclarecimento: O conto "Mais enrolado do que briga de polvo" foi publicado por Notibras no dia 16/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/almir-enrolado-como-briga-de-polvo-tem-emprego-ameacado/

domingo, 15 de setembro de 2024

Inocente, mas nem tanto

            Yasmin, no alto dos seus quase 12 anos, que seriam completados dali a uma semana, parecia respirar sapiência quando lançava aquele olhar arguto. Salete, a mãe, sabia que, apesar da capacidade perceptiva da filha, ela ainda era uma criança. Tanto é que procurava segurar a língua para não falar além do necessário.

          É verdade que Yasmin já sabia de cor uma penca de palavrões, a maioria aprendida assistindo aos embates da genitora nas reuniões com as amigas da igreja. Religiosa que era, Salete já havia perdido as esperanças de tornar o próprio vocabulário mais limpo. Não por acaso, o povo costumava falar que o seu corpo podia pertencer ao Senhor, mas a língua certamente era do próprio Capeta. 

          Apesar de tantas palavras feias, Salete se viu em uma encruzilhada. É que uma das primas, a Lorena, largou o marido e fugiu com outro. Aliás, não fugiu por fugir, como se o problema fosse apenas a traição. Essa parte é até irrelevante, tamanho o número de casos de trocas de maridos e esposas na família. O caso era outro.

      Salete, tentando proteger a pequena Yasmin de algo que pudesse abalá-la psicologicamente, não deixava que essa conversa chegasse aos ouvidos da filha. Mas eis que no domingo, justamente após o pastor liberar os fiéis, juntou-se aquele mundaréu de gente ao redor da Salete, que estava acompanhada da filha e do marido.

          — Salete, minha amiga, cadê a Lorena que nunca mais deu as caras?

          — Viajou.

          — Viajou ou fugiu?

          — Gilda, por favor, em nome de Jesus, vamos mudar de assunto.

          — Mamãe, o que aconteceu com a Lorena?

          — Yasmin, minha filha, ela foi viajar. 

          — Ih, Salete, mentindo para a criança?

          — Gilda, vá cuidar da sua vida, e me deixa cuidar da minha filha.

          — Salete, se você não quer contar, eu conto. Olha, Yasmin, a Lorena fugiu porque se juntou com um cara que matou um homem e está foragido. É isso! Pronto! Contei!

          Salete, com fogo nos olhos, já queria partir para cima da Gilda. No entanto, a pequena Yasmin, na maior naturalidade, parece que conseguiu apaziguar a situação.

          — Ah, é isso? Pensei que fosse algo cabuloso.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Inocente, mas nem tanto" foi publicado por Notibras no dia 15/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/yasmin-sabe-diferenciar-traicao-de-fuga-cabulosa/