Pois bem, da última vez que estivemos na
capital, a minha amada e uma das nossas sobrinhas, a Jojô, foram assistir ao
jogo entre o Verdão e o Vasco da Gama no estádio Mané Garrincha. Esse
evento, aliás, aconteceu no dia 22 de setembro de 2024.
Frequentadora calejada dos estádios pelo
país afora, a Dona Irene proporcionou algo inédito na vida da Jojô, que nunca
tinha tido a oportunidade de ir a um jogo de futebol. E lá foram as duas para
aquele que pode até não ter a fama do Maracanã, mas carrega o nome do maior
jogador das Copas do Mundo, o Anjo das Pernas Tortas, a Alegria do Povo.
Minha mulher e nossa sobrinha chegaram cedo ao Mané Garrincha,
tanto é que o local estava quase vazio. E, para surpresa das duas, um senhor de
aproximadamente 80 anos se sentou justamente ao lado delas, enquanto milhares
de outras cadeiras continuavam vazias. A princípio, a Dona Irene e a Jojô não
ligaram, mesmo porque estavam ali para assistir ao time do coração.
O local começou a encher aos poucos até ficar lotado. Pois é, as
duas torcidas estavam animadas para ver um dos maiores clássicos do futebol
mundial. E, entre todo aquele povo, a Jojô parecia a mais ansiosa. Tanto é que,
assim que o escrete alviverde despontou no gramado, ela começou a esgoelar que
nem doida. Até a Dona Irene, acostumada com tal situação, não ficou para trás e
também berrou que nem uma maluca.
Após se acalmarem, a Dona Irene sacou seu celular do bolso e
tirou algumas fotografias, inclusive uma que colocou uma pulga atrás da sua
orelha. É que aquele senhor estava com uma fisionomia estranha, como se estivesse
contrariado de estar ali. Estaria ele passando mal ou, então, o caso era outro?
A Jojô, curiosa que nem a tia, começou a investigar aquela
situação. No entanto, eis que o juiz apita e o jogo inicia. Bola pra cá, bola
pra lá, os dois times se estudando nos primeiros minutos. Dessa forma, a atenção
das duas torcedoras estava voltada para o campo.
Numa bobeada da defesa do Vasco, o
centroavante Flaco López abriu o placar aos 26 minutos do primeiro tempo. A
minha mulher e a Jojô pularam, gritaram, se esgoelaram, falaram todos os
palavrões conhecidos e inventaram outros tantos, enquanto a estrutura do Mané
Garrincha aguentava firmemente todos os demais torcedores palmeirenses fazerem
o mesmo. Que alegria!!!
Após alguns minutos,
os ânimos se acalmaram e a partida recomeçou. Mas eis que a Jojô cutucou a Dona
Irene.
— Tia, reparou que o senhor ao meu lado
ficou sentado o tempo todo?
— Não. Será que ele é?
— Pois é... Você sabe que pensei o mesmo?
— Jojô, reparando bem, agora tenho certeza
de que ele é.
— Por quê, tia?
— Disfarça e olha a cara dele.
Nisso, a Jojô olhou discretamente para o
velho, que estavam com uma expressão de bravo. Ainda desconfiadas, as duas
ficaram monitorando o homem para não cometerem alguma injustiça. Vai ver, o
cara estava com dor de barriga ou algo do tipo.
Já na segunda etapa da partida, o árbitro
marcou uma falta a favor do Vasco. O VAR, em seguida, chamou a atenção da
autoridade máxima e disse que o lance teria acontecido dentro da área. E lá foi
o juiz analisar o lance e, para alegria da torcida do Palmeiras, decidiu que
não foi pênalti.
Não estou aqui para dizer que a decisão
foi acertada ou não, mesmo porque não me cabe tal juízo. No entanto, foi
justamente nesse momento em que a Dona Irene e a Jojô concluíram as
investigações. É que aquele sujeito, sentado ali ao lado, apesar de trajar a
camisa do Palestra Itália, começou a xingar o árbitro. Não restava dúvida,
ali estava um vascaíno infiltrado na torcida do Palmeiras.
- Nota de esclarecimento: A crônica "O infiltrado" foi publicada por Notibras no dia 30/9/2024.
- https://www.notibras.com/site/xingamento-a-juiz-desmascara-vascaino-infiltrado-na-torcida/