quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Salete, a rainha da Inglaterra

    

Algum desavisado poderia afirmar que Salete poderia ser tudo na vida, menos humilde. Não por acaso, era frequentemente chamada de arrogante e egocêntrica, sem contar as vezes que foi dito que a mulher era narcisista em nível irreversível. E sempre, mas sempre mesmo, parecia estar preparada para receber alguém. Que fosse o Papa, não restava dúvida, lá estava a mulher toda empertigada como se fosse a própria rainha da Inglaterra. 

               — Cadê meu cachecol lilás, Cida?

             — Dona Salete, não é possível que a senhora vai colocar cachecol neste calor. Estamos no verão.

              — E desde quando elegância tem estação, mulher? Vá lá no meu quarto e procure por ele, que é capaz de algum ministro vir me fazer uma visita de surpresa.

               — Oxente! Que ministro o quê, dona Salete! Tá variando, é?

               — Não discuta! Vá, vá, vá logo!

               Hora do almoço, mesa pronta, nada de ministro, muito menos do Papa, Salete, pés inquietos, mãos agitadas, observava de relance através da janela da sala, quando Cida a alertou que a comida iria esfriar. Mal se sentou à mesa, a mulher observou as travessas, torceu os lábios para a empregada sentada na cadeira ao lado.

               — Frango de novo, Cida? Cadê meu filé?

               — Que filé, dona Salete? A senhora se esqueceu de novo, é?

               — Do quê?

               — Do que o cardiologista falou.

               — Hum! E desde quando médico entende de alguma coisa, Cida?

               — E é a senhora que entende agora, é?

               — Hum!

               — Ih, vai ficar emburrada de novo?

               — Tá bom, tá bom, tá bom, Cida!

               — E vê se come, pois a senhora vai ficar magrinha demais.

               — Hum!

               — Olha que, se a senhora não comer, como eu.

               — Hum!

               — Tá bom, tá bom, tá bom, Cida!

               — Isso! Tá uma delícia, né?

               — Hum!

               Enquanto as duas mulheres almoçavam, Cida quis saber se a patroa havia voltado a falar com a irmã.

               — Ih, Cida, a Lourdes não entende nada de nada.

               — Fizeram as pazes ou não?

               — É, você bem sabe que, entre paz e razão, prefiro a paz. Razão eu sempre tenho.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Salete, a rainha da Inglaterra" foi publicado por Notibras no dia 28/8/2025.
  • https://www.notibras.com/site/salete-a-rainha-da-inglaterra/

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