quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Enredo inusitado carregado de caipirinha

    

   A música ensurdecedora e as luzes, combinadas com algumas doses de caipirinha, ofuscavam qualquer pensamento lógico. No entanto, Larissa teve a nítida percepção de que ouvira, quando perguntou a Mauro, se ele ainda a achava bonita.

               — Tão real quanto sua beleza maquiada.

               A mulher tentou raciocinar, mas não conseguiu encontrar um motivo para aquilo: o marido não a amava mais, pior. certamente a teria trocado por uma mais jovem, talvez até com a metade da sua idade. 

               — Você não me ama mais?

               — Por que você está me perguntando isso?

               — Você me ama?

               O sujeito tentou cambiar palavras com ação, mas foi rispidamente impedido de beijar os lábios da esposa.

               — O que foi, Larissa?

               A mulher desabou em choro e soluços, borrando a maquiagem. 

               — Sai!

               — O que eu fiz, meu amor?

               — Amor? Você me acha horrorosa!

               — Horrorosa? De onde você tirou isso, Larissa?

               — Sai! Me larga!

               Mauro procurou entender aquela situação e, então, apontou um culpado: o álcool. Ele sabia que Larissa nunca se dera bem com bebida alcoólica. Resolveu pedir a conta, quando o celular tocou. Instintivamente, ele pegou o aparelho, mas não atendeu.

               — Atende! Vai, atende a sua amante!

               — Amante? 

               — Aposto que é a Júlia!

               — Júlia? Que Júlia?

               — Deixa de ser cínico, Mauro!

               — Amor, não conheço nenhuma Júlia.

               — Ah, não? Então, você vai querer me dizer que não conhece nenhuma Júlia?

               — Não!

               — E a filha da Marília?

               — Peraí! Você tá falando de uma garota que deve ter uns 18 anos.

               — Vinte, seu cretino! Vinte!

               — Vamos embora, meu amor. Por favor?

               — Então, me responda!

               — Responder o quê?

               — Por que você me trocou pela Júlia?

               — Larissa, meu amor, eu te amo! Não tenho outra mulher, muito menos a Júlia.

               — Você jura?

               — Claro que juro!

               — Mesmo?

               — Mesmo!

               — Por que me chamou de feia, então?

               — Feia? Nunca falei isso!

               — Não?

               — É claro que não, meu amor.

               — Então, diz que sou linda.

               — Você é linda.

               — Diz que sou a mulher mais linda do mundo.

               — Larissa, meu amor, você é a mulher mais linda do mundo.

               — Jura?

               — Juro.

               — Então, vem aqui me dar um beijo.

               Ao se aproximar dos lábios da amada, Mauro foi surpreendido por um vômito na cara. Pediu a conta e foram embora, apaixonados que eram, de mãos dadas.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Enredo inusitado carregado de caipirinha" foi publicado por Notibras no dia 27/8/2025.
  • https://www.notibras.com/site/enredo-inusitado-carregado-de-caipirinhas/

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