Acordou completamente grogue de sono naquele sábado, 16 de agosto de 2025. Levantou-se e se arrastou até o banheiro a fim de desaguar na privada, cuja tampa permanecia levantada desde que a esposa o abandonara por um praticante de artes marciais do Lago Sul.
Olhou-se no espelho e não
conseguiu enxergar seus olhos azuis, já que eram castanhos, nem mesmo o topete,
haja vista a calvície avançada. Os parcos cabelos, que ainda cismavam em se
fazerem presentes, que um dia teriam sido completamente pretos, agora dividiam
o espaço com fios brancos. Tentou dizer algo e, talvez pelo bocejo que lhe
tomou, a voz tenha saído fina como de costume, bem distinta daquela rouquidão
aveludada que nunca teve.
— Pois é, seu Elvis Presley, o senhor
chegou aos 48 anos. Aposto que você nunca se imaginou tão velho assim.
Apesar do autodesprezo, o sujeito,
mesmo desgastado pelo tempo, não poderia ser considerado um idoso. Tivera uma
infância boa, mas a adolescência foi terrível, pois carregava o peso de ser
xará do mais famoso cantor de toda uma geração, sem contar que o gajo parecia
cada vez mais vivo a cada dia. E, tentando se afastar daquela sina, chegou a se
apresentar com outro nome.
—
João, mas pode me chamar de Johnny.
—
Johnny?
—
Sim, Johnny.
E
o nome pegou tanto, que começou a causar problemas, a ponto do nosso Elvis, não
daquele outro mais famoso, precisar ser enfático e dar um basta:
—
Meu nome não é Johnny!
Por falar em nome, recebeu o seu por
mera fatalidade. Quer dizer, mera é modo de dizer, já que o inesquecível dia 16
de agosto de 1977 foi marcado por um cataclismo, quando um certo rapaz de
costeletas, que já não era tão rapaz assim, resolveu aceitar o convite de
extraterrestres e, então, deu o pinote da Terra. Há outras teorias, bem
sabemos, todavia, nenhuma tão plausível como essa.
Mas voltemos ao exato
momento em que o nosso Elvis estava diante do espelho. Ele deu mais uma olhada
em seu reflexo, abaixou a cabeça e lavou o rosto com uma boa quantidade de água
gelada. E, assim que retornou os olhos para o espelho, viu algo quase inacreditável,
caso não tive acontecido exatamente como aconteceu. Pois é, lá estava ele com o
famoso topete, aqueles olhos azuis penetrantes, alto, esbelto, belo que nem,
que nem, que nem... Ah, sim, belo que nem o outro Elvis, aquele mesmo que fora
abduzido por alienígenas há exatos 48 anos.
Elvis de frente para o próprio Elvis. Como seria possível, ninguém sabia. Entretanto, antes que ele pudesse refletir sobre aquela alucinação, o coração parou e, finalmente, Elvis estava morto.
- Nota de esclarecimento: O conto "Elvis não morreu" foi publicado por Notibras no dia 16/8/2025.
- https://www.notibras.com/site/elvis-nao-morreu/
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