Tereza, 36 anos, trigueira até na alma, não
era mulher de passar despercebida por onde passava. Obviamente que não seria
diferente no concorrido emprego de certa empresa pública federal localizada no
início da Asa Norte, em Brasília. Linda até dizer chega, foi fisgada por um
colega da seção ao lado.
Simão, quarentão de bigode tratado com as
melhores pomadas, poderia figurar como galã de novelas mexicanas. O sujeito,
solteirão convicto, mantinha discrição em relação a seus amores. Isso, aliás,
era mote para fofoqueiros, que, naquela sexta-feira, conjecturavam sobre a
orientação sexual do bonitão.
— Sei não, o Simão usa mais perfume do que a minha
poodle.
— Bem que você deveria passar um perfume de vez em quando,
Júlio.
— Tá me estranhando, Aurora? Sou é macho!
— Pois eu concordo com a Aurora! Ninguém merece desodorante
vencido.
— Até tu, Márcia?
— Ué, por acaso disse alguma mentira?
Enquanto Júlio cheirava o próprio sovaco, eis que entrou no
recinto o assunto da discórdia. Com uma xícara de café na mão, Simão
cumprimentou os colegas e foi até a sua sala. Passou o resto da tarde tão
atarefado, que mal conseguiu mandar mensagens para Tereza.
O casal se encontrou apenas à noite. Foram jantar em concorrido
restaurante no Lago Sul. Depois passaram a noite no apartamento de Tereza, onde
adormeceram enlaçados de paixão.
O romance seguia firme e, ao que tudo indicava, poderia
arrancar Simão do clube dos solteiros. Pelo menos era isso que Tereza
imaginava, ainda mais depois de receber uma lingerie rendada. Bem, a mulher não
teve tal suposição por conta do presente, mas pelo cartão com dois corações
entrelaçados. Não restava dúvida de que Simão queria algo muito além de noites
de luxúria.
Na sexta-feira seguinte, Tereza foi retocar a maquiagem no
banheiro do trabalho, quando encontrou duas colegas, a Lúcia e a Regina. Nada
demais, caso não fosse por um detalhe. É que a Lúcia, justamente a Lúcia,
beldade de seus 25 anos, estava de calça arriada com o intuito de mostrar algo
para a confidente.
— Não é linda?
— Hum! Linda mesmo!
— Pois ele me deu ontem à noite.
— Hum! Ele tem bom gosto, mulher!
— Mas o melhor de tudo foi isto.
Lúcia retirou de sua bolsa um lindo cartão com dois corações
entrelaçados, o que deu a certeza que Tereza não queria ter descoberto. A
partir daí, foi um Deus nos acuda. Pois é, a amada do Simão agarrou a rival
pelos cabelos e as duas se atracaram no chão frio e duro do banheiro. Regina,
desesperada, tentou separar a briga, momento em que, alertados pelos gritos,
entraram dois seguranças.
Tereza e Lúcia, apesar da vontade de continuarem a briga, foram
separadas. Cada uma num canto, as mulheres arfavam como tigresas, enquanto
exibiam como troféus de guerras tufos de cabelos da rival em suas mãos.
O caso foi parar a diretoria da empresa, que decidiu pela
punição das envolvidas. Nenhuma foi despedida, mas Tereza perdeu o cargo de
chefia, enquanto Lúcia tomou uma advertência. Ademais, essa contenda não passou
em branco pelos colegas dos envolvidos.
— Que maluquice foi aquela, Aurora?
— Tá vende, né, Júlio?
— O quê?
— E você que achava que o Simão jogava no outro time.
- Nota de esclarecimento: O conto "O amor é lindo" foi publicado por Notibras no dia 15/4/2025.
- https://www.notibras.com/site/don-juan-de-empresa-publica-faz-amantes-se-engalfinharem-em-banheiro/
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