quarta-feira, 16 de abril de 2025

A nova moradora do pedaço

          Creusa acabara de se mudar para o bairro. No entanto, não tardou, começou a dar o que falar, ainda mais por conta das coxas torneadas, fruto da genética e das pedaladas que a moça dava todas as manhãs antes de se arrumar para o trabalho. Não faltavam pretendentes à mais nova moradora, mesmo porque, até onde se sabia, a mulher era solteira. 

          Márcio, o mais disputado gatão do pedaço, fazia questão de, sempre que possível, desfilar seu físico apolíneo para o deleite de olhos interessados, fossem de mulheres solteiras, casadas, viúvas, tico-tico no fubá ou de viventes interessados em tirar uma lasquinha daqueles músculos saltados. E não havia quem resistisse quando ele parava e, com aquela voz rouca de cantor de boate, entonava um convite.

          — E aí, gata, que tal um cineminha mais tarde?

          Até dona Eulália, já passada dos 90 anos, parecia ainda guardar no peito a esperança de ser a escolhida para assistir ao filme em cartaz. Na verdade, ela nem ligaria se fosse uma reprise de uma antiga película B na televisão de tubo. No entanto, o gajo parecia interessado em outra mulher muito mais jovem, justamente a Creusa. Pois é, a Creusa, a mais nova moradora do pedaço. 

          Disposto e determinado, lá foi o Márcio, na maior cara de pau, investir contra a sua presa. Aconteceu bem ali na fila do pão da única padaria da região. Logo atrás da Creusa, que pediu dois pães. 

          Quando a moçoila se virou para ir pagar pela mercadoria, eis que o atendente, o velho André, olhou para o Márcio, como se querendo saber qual seria o pedido.

          — Seu André, vou fazer que nem a moça bonita. Quero dois pães. 

          Isso fez com que a Creusa se virasse e encarasse o falastrão. Ela sorriu ironicamente e, troco na mão, foi embora. O Márcio pagou também e saiu desembestado atrás do alvo. Já perto da esquina, abordou a lindona.

          — Ufa! Como você anda rápido!

          — De vez em quando é preciso, moço.

          — Hum! Me chamo Márcio.

          — Ok.

          — Não vai me falar o seu nome?

          — E pra quê?

          — Ué, pra gente se conhecer?

          — Já conheço muita gente neste mundo, moço.

          — Márcio!

          — Que seja!

          A mulher virou-se e entrou no prédio em frente. O conquistador ficou observando e, encucado, começou a conjecturar. Certamente, é do tipo difícil. Ah, mas deixa comigo que logo, logo ela estará aqui nos meus braços. 

          Não aconteceu, apesar das outras inúmeras tentativas, inclusive utilizando técnicas que o homem aprendeu na internet. Nada parecia funcionar com a Creusa. Até que, durante o aniversário da Loreta, os dois se encontraram. O problema é que a gatona estava acompanhada de outro homem. 

          Inconformado, o Márcio foi se lamentar com a Loreta. Gente, o que a Creusa via naquele outro, que era até barrigudo, ao contrário dele, com o abdome cheio de gominhos? Um disparate!

          Os meses passaram, e parecia que o namoro da Creusa continuava firme. Foi aí que o Márcio, num ímpeto de loucura, se ajoelhou na calçada diante da moça.

          — Creusa, eu te amo! 

          — Moço, tenho namorado?

          — Hum! Aquele gordinho?

           — Moço, um homem sem barriga é um homem sem história.

  • Nota de esclarecimento: O conto "A nova moradora do pedaço" foi publicado por Notibras no dia 16/4/2025.
  • https://www.notibras.com/site/nova-moradora-do-pedaco-arranca-suspiros-com-namorado-barrigudinho/

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