Não pense você que tal combinação seja de todo
mal. Não mesmo! Para você ter ideia, quando o circo pegava fogo, não era o
Armando que resolvia a situação. Ao contrário, pois o sujeito entrava em
parafuso e ficava incapacitado até de amarrar os cadarços. No entanto, Janaína
mantinha a calma e, pensativa, não tardava, encontrava a solução para o
problema. Aliás, ela podia até não achar o caminho para dar cabo da pendenga,
mas, não tenha dúvida, sabia dizer o que fazer, mesmo que fosse esperar até a
poeira baixar.
Por sua vez, Armando tinha lá sua utilidade.
Isso mesmo! O gajo era responsável por remexer o lodo no fundo do lago onde
repousava o matrimônio. Não em busca de novos relacionamentos, mesmo porque se
tratava de um romântico inveterado, completo devoto à esposa.
Janaína fazia o bolo; Armando, a cobertura;
Janaína comprava e embrulhava o presente; Armando dava o toque final com um
laço. E assim a vida prosseguia em quase harmonia, ainda mais porque ele
dependia dela, enquanto ela apreciava o jeito do marido de olhar o mundo.
Alguém até poderia dizer que o casal havia sido arrancado das páginas do
romance 'O feijão e o sonho', do imortal Orígenes Lessa.
A despeito da harmonia dos pombinhos, não
faltam línguas ferinas sem o menor escrúpulo. Uma delas era Julieta, vizinha de
porta, que tentava plantar discórdia entre o casal.
— Janaína, não sei como é que você aguenta
esse tipo molengão.
— Não tô te entendendo, Julieta. Que molengão
é esse que você tá falando?
— Ué, e por acaso tem outro?
— Diga logo o que quer dizer, mulher, e pare
de rodeio!
— Armando!
— E o que tem o meu Armando?
— Hum! Uma mulher forte que nem você tem que
arrumar um homem de verdade.
— Pois fique você sabendo, Julieta, que, além
de homem de verdade, o Armando é o oásis na minha vida repleta de chatices.
E pode ter certeza de que Armando também ouvia
dos amigos falas nada lisonjeiras sobre Janaína.
— Armando, meu amigo, não sei como você atura
isso.
— Atura o quê, Humberto?
— Tua mulher!
— Janaína?
— E por acaso você tem outra?
— Não tenho e nem quero! Janaína é o amor da
minha vida.
— É uma mandona!
— Pois é verdade!
— Então?
— Então o quê, Humberto?
— E você não acha ruim?
— Ruim o quê, homem?! Eu acho é bom! A Janaína
é a minha razão nesta minha vida repleta de devaneios.
Não se
sabe ao certo quem morreu primeiro, se foi Janaína ou Armando. Dizem até que,
já velhinhos, os dois foram dormir juntos e, felizes, acordaram no Reino de
Hades.
- Nota de esclarecimento: O conto "Janaína e Armando" foi publicado por Notibras no dia 12/4/2025.
- https://www.notibras.com/site/casal-perfeito-se-completa-em-meio-as-suas-muitas-imperfeicoes/
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