sábado, 15 de novembro de 2025

Um solitário fogão no ponto de ônibus

    Há cenas inusitadas por todos os cantos deste planeta que, até onde me consta, continua redondo, apesar de uns tolos insistirem que é plano. Mas não estou aqui para arrumar pendenga com gente que assimila qualquer bobagem dita por aquele tio sem-noção no grupo do WhatsApp.

    Sobradinho, ou melhor, Sobradinho II, um dos lugares bucólicos do Distrito Federal, onde é possível encontrar cavalos, vacas, frangos, aquele porco fujão, além dos simpáticos cães e gatos de rua. É um verdadeiro mundo animal, e que me traz, digamos, certa tranquilidade, quando vou visitar os meus sogros, a Martinha e o Valdir, que não trocam a cidade por nada. E olha que a minha mulher, a Dona Irene, e eu já insistimos para que eles se mudem para Porto Alegre ou alguma cidade praiana.

    Pois lá fomos nós fazer uma visita aos pais da minha esposa. Obviamente que levamos a Bebel e a Clarinha, as nossas buldogues, pois somos da opinião que família é família e, por isso mesmo, ninguém pode ficar para trás. Como o papo estava agradável e a comida boa, acabamos ficando até tarde e, não teve jeito, dormimos por lá.

    Na manhã seguinte, bem cedinho por sinal, a Clarinha encostou aquele focinho gelado na minha cara. Levei o maior susto. Seja como for, sabia que era hora dela e da irmãzinha darem aquela volta. E lá fomos nós.

    Depois de andarmos bastante, vi uma cena inusitada. Aliás, inusitada é pouco. Esdrúxula! Um fogão. Sim, um fogão. Um solitário fogão no ponto de ônibus. Solitário, como se tivesse esperando pelo próximo ônibus, que, até aquele momento, nem sinal.

    Observei aquela cena e, caso fosse eu poeta que nem o Daniel Marchi ou a Sarah Munck, faria uma poesia. Mas não, sou prosista. E comecei a imaginar a história por detrás daquele quadro.

    Será que o fogão havia sido expulso de casa? O relacionamento com a geladeira teria esfriado? Uma traição! Sim, imaginei um caso entre a geladeira e o micro-ondas. Ou seria com o fogão elétrico?

    Cheguei a me aproximar e até cogitei perguntar o motivo de tamanha tristeza. Talvez aquelas seis bocas quisessem desabafar. Todas mudas, murchas, caladas. Desisti, Chamei as meninas e fomos embora.

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Um solitário fogão no ponto de ônibus" foi publicada no Notibras no dia 15/11/2025.
  • https://www.notibras.com/site/um-solitario-fogao-no-ponto-de-onibus/

Nenhum comentário:

Postar um comentário