Reparou que fiz uso de metonímia? Pois é, de vez em quando,
recorro a tal recurso literário para tornar o texto mais, mais... Como vou
dizer? Ah, atrativo. Concorda? Não precisa concordar, pois, caso discorde,
acompanharei seu voto para evitar pendengas desnecessárias.
Não estou aqui para falar de mim e, com o perdão pela franqueza,
nem de você. Não que eu esteja desmerecendo a sua nobre contribuição, já que
leitores são fundamentais para qualquer escritor que deseja ser lido. E não sou
diferente. Entretanto, no entanto e todavia, aqui quero falar sobre o Carlos,
que é Gomes que nem o nosso mais importante compositor de ópera, Carlos Gomes,
contemporâneo do carioca Joaquim Maria Machado de Assis, mas paulista de
Campinas.
Atrevido em gestos e palavras, o Carlos, não o
afamado fazedor de música, mas o amigo do Afrânio, detém a estupidez de brigar
por migalhas. Isso mesmo! Não importa se por míseros centavos ou por qualquer
ninharia, simplesmente pelo mero prazer de provocar confusão, como se isso
alimentasse seu ser e, não duvido, até a alma.
Carlos e Afrânio lá estavam sentados em um
bar, bem ali na Asa Norte, a fim de degustarem sardinha frita com cerveja
estupidamente gelada. Repare também que aqui recorro a outra figura de
linguagem, no caso, a hipérbole. Sim, para descrever o quão refrescante estava
a rainha das bebidas dos botequins.
Pois lá estavam os amigos, entre sorrisos,
risos e gargalhadas, ainda mais porque Afrânio é um excelente piadista. Desse
modo, não foi difícil para ele quebrar o coração de pedra do Carlos. Sim, tenho
certeza de que você percebeu que se trata de uma metáfora, pois, até onde me
consta, não existe ser vivo com aquele órgão, comumente relacionado às emoções,
feito de rocha.
Enquanto os camaradas se
divertiam, eis que o ambiente começou a encher de pessoas com camisas,
bandeiras, bandeirolas e outros apetrechos do Atlético Mineiro, que enfrentaria
logo mais o América Mineiro na grande final do Campeonato Mineiro de 2025. Não
tardou, a galera, mais animada do que pinto no lixo, começou a gritar:
— Galo!
Galo!! Galo!!!
Afrânio,
preocupado com qualquer atitude intempestiva do amigo, tratou de pedir a conta.
Carlos, por sua vez, furioso, começou a lançar olhares desafiadores para aquela
turba de fanáticos. Mas eis que, parece, os deuses do futebol estavam ao lado
do brigão, pois, não tardou, o garçom trouxe a conta, que foi amigavelmente
dividida entre os confrades.
Já no minuto seguinte, os
dois parceiros tomaram a calçada, para alívio do Afrânio. Mas eis que, quando
já estavam a uns bons cem metros do local, o incauto Carlos voltou correndo para
frente do bar e gritou:
— Cruzeiro! Zeiro!! Zeeeeiiiiiroooo!!!
Já adivinhou o que aconteceu, né?! Pois é,
alguns exaltados torcedores do Atlético se levantaram e foram tomar satisfação
com o atrevido. Sebo nas canelas, já que o Carlos pode até ser casqueiro, mas
não é maluco. Por sorte, ele é ligeiro que nem a mascote do América Mineiro.
Bem, talvez você esteja se perguntando como é
que tomei conhecimento dessa história, já que não mantenho contato com os dois
há tanto tempo, que nem me lembro de quando foi a última vez. Entretanto, no
entanto, todavia, naquele mesmo bar, entre os fanáticos pelo Galo, estavam a
Marina e o João, casal morador do Noroeste. E, após o apito final, enquanto a
torcida, eufórica que estava por mais um título do Atlético, a Marina se
lembrou de telefonar para a minha mulher:
— Dona Irene, você não vai acreditar na
última do desvairado do Carlos.
Ah, detalhe! O Carlos nem gosta de futebol.
- Nota de esclarecimento: A crônic "Carlos, mas pra que tudo isso?" foi publicada por Notibras no dia 1º/11/2025.
- https://www.notibras.com/site/carlos-mas-pra-que-tudo-isso/

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