Soube que em São Paulo existe um lugar chamado Estrada das
Lágrimas. Hoje, ela corta Heliópolis (que disputa com Paraisópolis o título de
maior favela da cidade), mas nem sempre foi assim. Pesquisando, descobri que em
1916, no bairro do Ipiranga, havia uma velha árvore que se tornara ponto de
referência para os que partiam de São Paulo em direção ao mar.
Era conhecida como árvore das lágrimas, porque ali se marcava o
momento das despedidas. Parentes, amores e amigos se reuniam sob sua sombra
para o último abraço antes da separação. Reza a tradição que até Dom Pedro I
passou por essa estrada a caminho do Ipiranga. Durante décadas, os paulistas
carregaram consigo a memória de deixar alguém ou de serem deixados naquele
ponto, onde a vida ganhava o peso da ausência e da saudade.
Fiquei pensativa sobre o que aquele lugar testemunhou. Quantos
olhos marejados repousaram na árvore? Quantos corações se apertaram, sabendo
que talvez nunca mais veriam aquele rosto querido? É como se o tronco guardasse
em sua casca todas as histórias de amor e de dor que se entrelaçaram ali.
Hoje, a árvore não está mais lá. Só restam a estrada e o nome, que
ecoa como um memorial involuntário. A Estrada das Lágrimas continua, mas
carrega no silêncio do asfalto a lembrança de todas as tristezas que já
acolheu. E eu fico imaginando que, de alguma forma, aquelas lágrimas permanecem
impregnadas no chão, lembrando que São Paulo, apesar de sua pressa e dureza,
também já foi palco de despedidas carregadas de ternura e de perda.
- Nota de esclarecimento: A crônica "Sombra na despedida", de autoria da escritora Dona Irene, foi publicada no Café Literário do Notibras no dia 1º/11/2025.
- https://www.notibras.com/site/a-velha-arvore-irrigada-com-lagrimas/

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