Não posso precisar exatamente quando foi, mas afirmo que se deu em
outro tempo, quando não exista computador nem aparelho celular e, por isso
mesmo, sobrava momentos para olharmos para frente, para os lados e para trás.
Telefone era coisa de endinheirados e, caso você precisasse falar com alguém,
ou ia até o indivíduo ou, dependendo da lonjura, mandava uma carta.
— Carta?
— É.
— O que é uma carta, vovô?
— É quando queremos conversar com alguém. Então, pegamos uma
caneta, uma folha ou mais e escrevemos um monte de coisas. Daí, colocamos em um
envelope e postamos nos Correios.
— Tipo mandar mensagem pelo Whatsapp?
— Hum... Não exatamente. A carta levava um
tempo para chegar. Mas quando chegava... Ah, que sensação boa! A gente pegava,
olhava o envelope dos dois lados, revirava e revirava de novo. Tentava
desvendar o conteúdo. Encostava no nariz pra sentir o cheirinho. Procurava um
cantinho sossegado, abria o envelope com cuidado pra não rasgar a carta. Depois
lia, relia, relia, relia, relia...
— E depois, vovô?
— Ah, depois a gente guardava bem guardado e,
vez ou outra, pegava de novo e lia novamente.
— Mas, vovô, a gente não pode mais fazer isso?
— Poder até pode, mas mandar carta caiu tanto
em desuso, que é capaz de alguém nem saber o que é.
— Vovô, você escreve uma carta pra mim?
— Escrevo, sim, Aninha.
Apesar do
diálogo entre gerações, inclusive com a promessa cumprida, cartas continuam
rareando cada vez mais. Época antiga, quando sobrava mais tempo para olhar para
frente e para os lados.
- Nota de esclarecimento: O conto "O avô, a neta e as cartas" foi publicado por Notibras no dia 21/5/2025.
- https://www.notibras.com/site/o-avo-a-neta-e-as-cartas-que-escasseiam-cada-vez-mais/
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