Paulão trabalhava em um órgão do governo, onde ocupava uma posição de chefia. Por causa disso, sempre havia um ou outro bajulador em sua sala, seja levando uma maçã ou qualquer outro agrado, seja elogiando o novo terno, seja até mesmo para levar um pouco de café requentado em um copo de plástico. No geral, ele recebia todos de bom grado, mas lhe faltava algo naquela cidade tão distante da sua, lá no interior de São Paulo.
Nesse mesmo local havia um outro funcionário, o Dudu, que de
chefe não tinha nada. Ele trabalhava em um departamento bem próximo da sala do
Paulão, com quem já havia cruzado algumas vezes pelos corredores ou na cantina.
Apenas um "Oi!", nada de muita conversa. No entanto, o Dudu havia
percebido algo que o incomodava no Paulão. Ele, que não era psicólogo nem nada,
notou um olhar tristonho por detrás daquele sorriso expansivo do Paulão.
Certo dia, lá estava o Paulão, jogando aquelas pernas longas em
passadas espaçosas pelo corredor, quando foi parado por um grupo de
funcionários, que falava sobre futebol. Um deles, mais atrevido, perguntou para
o Paulão qual era o seu time. Ele deu aquela estufada no peito e, quase
gritando, disse:
- Linense!
- O quê?
- Linense! O Elefante!
Ninguém entendeu bulhufas do que o Paulão queria dizer com
aquilo. Todavia, antes que ele pudesse explicar, alguém o chamou para resolver
um problema de última hora. Coisas da chefia!
Alguns dias se passaram, até que o Paulão precisou ir ao
departamento do Dudu, que fingia estar entretido com alguma coisa importante
simplesmente porque não queria trabalhar. Entretanto, o olhar sagaz do Paulão
não pode deixar de notar o símbolo do seu time do coração na tela de proteção
do computador do Dudu.
- Linense! Por que você tem o escudo do Linense no seu
computador?
- Ué, porque sou Elefante!
O Paulão, ainda desconfiado, pensou que aquilo fosse uma piada.
Mas, antes que pudesse fazer novo questionamento, eis que o Dudu, com um
ligeiro toque no teclado bem à sua frente, fez com que o hino do Linense
começasse a tocar. A partir daí, aqueles dois malucos passaram a ter um vínculo
tão intenso, que muita gente não entendia. "Afinal, quem é que torce pro
Linense?", todos se perguntavam.
- Nota de esclarecimento: O conto "Paulão, Dudu e o Elefante" foi publicado por Notibras no dia 24/3/2024.
- https://www.notibras.com/site/servidor-esperto-ganha-pontos-sem-bajular-chefe/
Muito engraçado ou mera coincidência, mas conheci uma pessoa que sempre torcia pelos times dos chefes. Sempre que mudava as chefias, essa pessoa aprendia rapidamente o hino do time do chefe. Em um breve período de quatro anos, com mudanças nas chefias, referido profissional torceu pelo Palmeiras, Flamengo e Fluminense. Acho que é mera coincidência.
ResponderExcluirGil, esse seu conhecido é muito perspicaz! Depois você me conta mais sobre ele. Quem sabe eu não escreva algo a respeito...
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