Diante de tais histórias quase impossíveis, o homem acabou
angariando alguns desafetos, que o chamavam de mentiroso. Já os amigos, por
mais que também duvidassem daquelas incongruências com a verdade, cismavam em
defendê-lo.
A intriga estava tão grande, que o padre resolveu chamá-lo para
uma confissão que, não se sabe como, acabou virando mais um causo. O loroteiro
de um lado do confessionário; o padre, do outro.
Natalino disse que havia sido
perseguido por um homem de três metros de altura. O grandalhão estava com um
facão maior do que uma pessoa de estatura média. Enquanto corria, Natalino
acabou tropeçando em um tronco e caiu. Na verdade, segundo o contator de
causos, o tronco era uma cobra.
Como estava escuro, o grandalhão não
percebeu que Natalino se esgueirou para o meio do capim alto. Ele tentou não se
mexer, ficou com um olho no facão e o outro na serpente.
— Seu padre, mas eu juro que é verdade!
— Mas como pode isso, meu filho?
— Pois bem. Lá estava eu naquele mundaréu sem fim, o capim
dessa altura. De repente, aquele homem me achou e sorriu aquele sorriso
maligno. Ele ergueu o facão pra mim e já ia me cortar em pedacinhos. Mas aí,
graças ao nosso bom Jesus Cristo, a cobra picou o dedinho do pé do homem. A
botina dele tinha um furinho justamente ali. Por sorte minha, o bandido caiu
durinho na hora!
— Meu filho, e que cobra era?
— Ah, isso eu não sei não. Mas que a bicha tinha três tipos de
veneno, ah, isso tinha!
— E cadê o corpo do homem que ninguém viu, Natalino?
— E não é que apareceu uma onça e comeu o
mardito inteirinho?
— Até os ossos?
— Pro senhô vê! Inté os ossos!
- Nota de esclarecimento: O conto "Matuto no confessionário" foi publicado por Notibras no dia 28/9/2024.
- https://www.notibras.com/site/matuto-confessa-causo-no-mato-que-ate-deus-duvida/
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