terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Gilmarildo, o escrivão de polícia

 


           Não sei se essas coisas realmente aconteceram, pois foi um amigo de um amigo meu que me contou. Seja como for, creio que vale a pena escrever sobre isso. Sei que o nosso personagem desta história era escrivão de polícia. Não sei ao certo de qual delegacia especificamente, mas o seu nome era Gilmarildo. Segundo me contaram ou, então, que eu me lembre, o Gilmarildo vivia situações engraçadas ou, ao menos, curiosas.

          Uma delas era sobre a mãe de um rapaz que havia sido preso por roubo. Segundo a defesa, ele não agia de maneira consciente, pois era dependente químico. A mãe desse assaltante foi arrolada como testemunha durante o inquérito policial e, por isso, acabou sendo ouvida pelo Gilmarildo.

Conversa vai, conversa vem, o escrivão teria dito:

— Ah, ele é usuário de drogas, né?!

 A mãe do rapaz prontamente o teria retrucado:

— Não, ele não usa drogas. Ele só fuma maconha, cheira cocaína e bebe umas pingas aí.

Dizem, não posso afirmar, que o Gilmarildo teria dado um sorriso de canto de boca e pensado que mãe é mãe. 

          Outra situação, ainda conforme me contaram, teria ocorrido durante a conversa entre o Gilmarildo e uma vítima de Lei Maria da Penha, que queria desistir de prosseguir com as investigações, já que teria feito as pazes com o marido. Enquanto o escrivão a escutava, calhou de um engraçadinho na sala ao lado ouvir as palavras da mulher e dito:

— Jura mesmo? Nossa, isso nunca aconteceu!

A mulher, talvez não percebendo a ironia do outro policial, pareceu feliz por, talvez, dar uma nova chance ao amado. Para falar a verdade, esse caso nem acho engraçado, já que fico aflito em saber que várias mulheres são vítimas desses crimes. 

          Já esse outro momento é divertido. Deixei-o por último para terminar esse texto com um gosto mais adocicado na boca. Pois bem, lá estava o Gilmarildo ouvindo um rapaz, não mais que vinte e poucos anos, que havia sido indiciado por roubo. Esse suspeito era conhecido como Lesminha. O escrivão, curioso como ele só, não resistiu e lhe fez a seguinte pergunta:

— Senhor Cristiano, vou chamá-lo de senhor Cristiano, pois é o nome do senhor. No entanto, o senhor poderia me falar por que as pessoas o chamam de Lesminha?

Dizem, não posso afirmar, que o Lesminha, ou melhor, o senhor Cristiano, que estava sentado em uma cadeira em frente ao Gilmarildo, deu uma esticada no corpo, ao mesmo tempo em que todas as vértebras do seu corpo estalaram. Talvez seja um exagero do meu amigo que me contou essa história. Mas voltando ao causo, o senhor Cristiano, logo após dar aquela aprumada no corpo, teria respondido com uma cara meio envergonhada:

— É que desde menino eu sempre fui o último nas corridas lá na rua.  

  • Nota de esclarecimento: O conto "Gilmarildo, o escrivão de polícia" foi publicado por Notibras no dia 14/10/2025.
  • https://www.notibras.com/site/gilmarildo-o-escrivao-de-policia/

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