Introdução
Duas
meninas, gêmeas, sete anos, uma Ana Maria, outra Mariana. Ana Maria tinha
grandes olhos de um castanho meio mel; Mariana também. Ana Maria com seus
cabelos encaracolados, caídos um pouco abaixo dos ombros; Mariana também.
Ana Maria adorava sorvete de flocos; Mariana, de morango.
As
duas irmãs moravam em uma pequena rua, uma rua sem saída, num bairro bem
distante, numa cidade bem grande, num país chamado Brasil. Havia outras
crianças na rua da Ana Maria, que também era a rua da Mariana, mas que também
era a rua de outras pessoas.
Juliana também morava
nessa rua, era amiguinha das gêmeas, tinha cabelos lisos, loiros, caídos bem
abaixo dos ombros. Todos a chamavam de Jujuba. Também havia a
Gabriela, morena dos cabelos tão grandes que alcançavam o bumbum. Nossa,
a Gabriela era tão mandona, gostava de chefiar tudo. Mandar era com ela
mesma. Iago era um dos poucos meninos da rua, magro como um palito,
negro, dois olhos de jabuticaba bem madura.
A criançada se
divertia com as brincadeiras que seus pais e até avós já haviam brincado.
Queimada, que essa nova geração cismava em chamar de queimado, pique-esconde,
bandeirinha, o mestre mandou. Muitas e muitas brincadeiras. Puxa,
como se divertia essa meninada!
* * * * *
Não
só havia crianças nessa rua, mas árvores frondosas, principalmente
amendoeiras. Quando chovia, e a criançada não queria acabar a
brincadeira, todos se protegiam embaixo das árvores. E quando o sol
estava muito forte, a galerinha também ficava sob as copas tão protetoras das
mesmas árvores.
Alguns
gatos circulavam pela rua, uns tinham dono, outros eram da rua mesmo. Um
desses errantes era um lindo gato branco, a cauda mais peluda do que o resto do
corpo, um pouquinho gordo, mas nada que o impedisse de escalar muros e até
mesmo as belas árvores. E mesmo sendo um bichano das ruas, tinha nome e
até sobrenome, colocado pelo pessoal da vizinhança. Pois bem, o dito cujo
se chamava Virgulino Ferreira da Silva. Mas por que cargas d’água iriam
dar um nome desses a um gato, você poderia perguntar. É mais simples do
que parece: esse bichano recebeu esse nome como uma referência ao cangaceiro
Lampião, que se chamava Virgulino Ferreira da Silva e só tinha um olho.
Pois é, o gato Virgulino também só possuía um olho. Ninguém sabe na
verdade como ele perdeu o outro ou, se sabe, já se esqueceu.
Quem
sempre andava com o Virgulino era um gato de cor cinza azulado, olhos verdes e
que sempre se metia em confusão. Já havia escapado da morte diversas
vezes e, por esse motivo, ganhara o sugestivo nome de “Elvis não morreu”.
Virgulino e Elvis eram amigos inseparáveis, sempre se metendo em encrencas
juntos, sempre saindo delas juntos. Eram como unha e carne.
Não
poderia deixar de existir nessa história uma gatinha, que por sinal se chamava
Sonja ou, para os íntimos, Sonjinha. Uma bela bichana de cor cinza,
tigrada, olhos verdes como os do Elvis, mas bem mais dóceis e confiáveis.
Ao contrário de Virgulino e seu amigo inseparável, Sonja possuía dono, ou
melhor, dona, ou melhor ainda, duas donas: Ana Maria e Mariana ou, se você
preferir, Mariana e Ana Maria, as tais gêmeas de que falei logo no início desta
história.
Sonja não era a única
na casa das duas irmãs, dividia o caixote de madeira com seu filho único, o
Dunguinha, um gatinho loiro e de olhos verdes. Ele ainda não havia
completado três meses, mas já era o xodó da casa, da rua, enfim, de todos que o
conheciam. Era uma coisa de Dunguinha para cá, Dunguinha para lá, todos
queriam pegar o filhotinho no colo.
Não
só de crianças, árvores e bichanos esta história é feita. Também havia os
pais e mães da criançada. Ah, claro, também não podemos nos esquecer dos
outros animais como, por exemplo, a Cuca, uma cachorrinha muito simpática, que
morava na mesma casa da Sonja. Ela também pertencia às gêmeas Ana Maria e
Mariana e, apesar do dito popular, se dava muito bem com os bichanos da casa e
até mesmo com os da rua.
Capítulo I
Atirei o pau no gato
A
criançada estava brincando na rua, numa sexta-feira já perto das dezenove
horas, que é a mesma coisa que sete horas da noite. Só que era horário de
verão, e o dia continuava claro.
Era
um corre-corre para cá, um corre-corre para lá. A patota já havia
brincado de pique-bandeira, que alguns chamam de bandeirinha. Também se
divertiram muito jogando garrafão. Ei, não pense você que jogar garrafão
é sair atirando garrafas nos coleguinhas. Garrafão é o nome de uma
brincadeira onde a gente desenha uma grande garrafa no chão. Aí, quem
está dentro do garrafão só pode andar com um pé, a não ser que seja você que
está tentando pegar seus amiguinhos. Quem está de fora pode usar os dois
pés. Bem, mas como eu ia dizendo, a galerinha já havia gastado muita
energia em inúmeras brincadeiras divertidas. Então, a Gabriela, a tal
menina mandona, chamou todos para brincar de show de calouros. Cada um
tinha de cantar uma música, mas podia cantar em dupla, trio ou, até mesmo,
todos juntos.
_
Eu posso ser a primeira? – Jujuba perguntou.
_
Tá bem. Depois vai ser a Mariana – Gabriela disse.
_
Mas eu posso cantar com a minha irmã? – quis saber a Mariana.
_
Claro que pode, Mariana – concordou a Gabriela.
_
E eu não vou cantar? – o Iago perguntou quase chorando.
_
Claro que vai, Iago – todos responderam ao mesmo tempo.
Jujuba
cantou “O trem maluco” e foi aplaudida por todos. Depois foi a vez das
gêmeas cantarem “Cai, cai balão”. Outras crianças cantaram “Marcha
soldado”, “Casa engraçada” e outras canções. Quando chegou a vez do Iago,
ele não quis cantar sozinho e pediu para que todos cantassem juntos “Atirei o
pau no gato”. Não pense você que eles maltratam os animais, mas apenas
preferem a versão original àquela que diz “Não atirei o pau no gato”.
Quando
terminaram de cantar “Atirei o pau no gato”, alguém, acho até que foi a Ana
Maria, perguntou se uma das crianças tinha visto o Virgulino. Ninguém,
mas ninguém mesmo soube responder. Pensando bem, a última vez que haviam
visto o tal gatinho branco foi pela tarde do dia anterior. E acho que foi
o Iago, isso mesmo, foi o Iago quando voltava da escola, que o viu pela última
vez.
Gabriela
imediatamente organizou duas turmas de busca. A primeira era formada por
Jujuba, as gêmeas, Taís e Leila. A outra turma ficou sendo a Gabriela,
Amanda, Iago e o Leo, que na verdade se chama Leonardo e é irmão da
Leila.
A galera da primeira turma tinha de
procurar embaixo dos carros; a outra procurou em cima das árvores.
Procuraram, procuraram, procuraram... Puxa, mas como procuraram! E
nada de acharem o Virgulino. Ainda estavam procurando quando a mãe da
Leila e do Leo os chamaram.
_ Leila! Leo! Já tá
tarde! Vamos entrando!
Logo em seguida foi a vez da avó do Iago
mandá-lo entrar. E as mães, pais e outras pessoas da família foram
chamando a criançada para entrar. E todos foram se despedindo dos
coleguinhas e entraram para as suas respectivas casas.
Capítulo II
Pique-esconde
No dia seguinte, uma sexta-feira, lá
estava a garotada da rua sem saída, a rua da Ana Maria e da Mariana, a mesma
rua que também era de outras crianças, de árvores frondosas e de vários
bichinhos.
_ Gente, hoje é sexta-feira, amanhã não
temos aula, pois será sábado. Então, podemos brincar até um pouco mais
tarde – disse Gabriela, que você já sabe que era mandona.
_ É mesmo! Que legal! – foi
dizendo Iago.
_ Mas estudar também é muito legal –
falou a Mariana.
_ É isso aí, Mariana! – concordou a
Jujuba.
_ Podemos brincar de pique-esconde – sugeriu
a Ana Maria.
_ Bacana! – disse a Taís.
_ Maneiro! – concordou a Leila.
Como a maioria queria brincar de
pique-esconde, a proposta da Ana Maria foi aceita. Logo estavam todos
formando um círculo e gritando “zerinho ou um”. O último a sair contaria
até 50 para que os outros se escondessem. E o último a sair foi
justamente o Leo.
_ Um, dois, três, quatro, cinco... –
enquanto o irmão da Leila contava com o rosto virado para o pique, todos se
escondiam.
A Ana Maria e a Jujuba se esconderam
atrás de uma moita de capim limão, a Mariana foi para trás de um carro, o Iago
e a Taís subiram em uma árvore, a Leila e a Gabriela ficaram atrás de uma
outra árvore. As outras crianças também se esconderam, cada uma tentando
escolher o esconderijo mais perfeito.
Pois é, a galerinha ficou nessa
brincadeira por mais de uma hora. Depois do Leo, foi a vez da Jujuba
contar até 50 para que todos se escondessem. Mariana e Taís a
sucederam. E depois ainda vieram a Gabriela, a Leila e, por último, o
Iago. Só a Ana Maria não teve de contar até 50. É, dessa vez, a danadinha
teve sorte!
A brincadeira só acabou mesmo porque
alguém se lembrou de procurar o Virgulino, que havia sumido e ninguém conseguiu
achá-lo. Se não estou enganado, acho que foi a Mariana que se
lembrou. Seja como for, a mandona da Gabriela dividiu os grupos como no dia
anterior e todos foram procurar o Virgulino.
Era um tal de gritar “Virgulino” pra cá, “Virgulino” pra
lá, mas nada do bichano aparecer. De tanto berrarem, as crianças já
estavam ficando roucas. Gritaram até que a Taís percebeu que não era só o
Virgulino que havia sumido. Ela notou que o amigo inseparável do gatinho
desaparecido também não estava por ali.
_ Galera, vocês notaram que o Elvis
também sumiu? – perguntou a Taís.
Ninguém havia visto o amigo do
Virgulino. Então, a Gabriela chamou todo mundo e fez uma grande roda.
_ Pessoal, a Taís notou que o Elvis
também sumiu. Ontem ele estava aqui, mas hoje desapareceu. O que
será que houve com os dois? Será que foram embora da nossa rua? – falou a
mandona.
Mas antes que alguém pudesse responder,
o pai das gêmeas mandou que elas entrassem. Logo em seguida foi a vez da
mãe da Leila e do Leo chamá-los. E assim a criançada foi entrando para as
suas respectivas casas, sempre obedecendo aos chamados dos pais, das mães, das
avós...
Capítulo III
Cobra-cega
O sábado amanheceu ensolarado e logo a
garotada estava na rua. A brincadeira já ia começar. A maioria
escolheu brincar de cobra-cega, que alguns conhecem por cabra-cega. Só
estavam faltando as gêmeas, que ainda não tinham saído de casa. Então, a
Gabriela, que era mandona mesmo, falou pro Iago ir chamá-las.
_ Puxa, sempre sobra pra mim! –
resmungou o garoto de olhos de jabuticaba.
Antes mesmo que o Iago tocasse a
campainha da casa da Ana Maria e da Mariana, elas apareceram e falaram ao mesmo
tempo:
_ Iago, você viu a Sonjinha e o
Dunguinha?
_ Não. Por quê? Não vão me
dizer que eles sumiram também?
_ Isso mesmo – respondeu Ana Maria antes
da sua irmã.
Os três correram para contar a novidade
para a galerinha. Então, a Gabriela dividiu a turma em dois grupos para
procurar os dois gatinhos. Aliás, os quatro, pois o Virgulino e o Elvis
continuavam desaparecidos. Procuraram, procuraram, procuraram e
nada de encontrar os felinos. Onde eles poderiam estar?
Depois de mais de uma hora procurando os
gatinhos, a Ana Maria veio conversar com a Gabriela.
_ Gabi, estive pensando numa coisa.
_ No quê, Aninha? –
quis saber a Gabriela.
_ Olha, já procuramos os nossos amigos
gatinhos em vários lugares, mas até agora nem sinal deles. Então, tive
uma ideia!
_ Que ideia, Aninha? – quis outra vez
saber a Gabriela, que além de mandona era muito curiosa.
_ Precisamos da ajuda de mais alguém! –
disse a Ana Maria fazendo um certo mistério.
_ E de quem? – mais uma vez a mandona e
curiosa da Gabriela quis saber.
_ Ora bolas, da Cuca! – finalmente disse
a Ana Maria.
_ Da Cuca? Mas por que da Cuca? –
a Gabriela não entendeu.
_ Olha, a Cuca é uma cachorrinha e tem
um ótimo faro. Ela conhece o cheiro de todos os gatinhos que
sumiram. Então, ela vai achá-los! Tenho certeza de que ela irá
encontrá-los! – falou a Ana Maria.
_ Boa ideia! – disse o Diogo, que estava
por perto e acabou ouvindo a conversa das duas.
_ É, pode dar certo – concordou a
Gabriela.
Depois de chamar
toda a criançada da rua, a Gabriela falou para o Iago ir buscar a Cuca, que era
a cachorrinha da Ana Maria.
_ Iago, vai lá na casa da Ana Maria e
traga a Cuca aqui.
_ Ah, tudo eu, tudo eu! – resmungou o
Iago, mas mesmo assim obedeceu à mandona da rua.
Em menos de cinco minutos, o Iago estava
de volta com a Cuca, que veio abanando o rabinho para a garotada. Ela
gosta tanto das crianças que acabou por derrubar a Ana Maria e começou a lamber
o seu rosto. A Mariana foi tirá-la de cima da irmã, mas a Cuca deu um
pulo e a jogou no chão e também lambeu o seu rosto.
_ Para, Cuca! Você está me fazendo
cócegas – protestou a Mariana.
_ Au, au, au! – a Cuca latia chamando
todos para brincar.
_ Quieta, Cuca! – ordenou a Gabriela.
Até a Cuca sabia que a Gabriela era
mandona e, por isso mesmo, saiu de cima da Mariana e se sentou ao seu
lado. A Mariana limpou seu rosto das lambidas da cachorrinha danada.
_ Aninha, fala pra Cuca procurar os
gatinhos – disse a Gabriela.
A Ana Maria se ajoelhou em frente à
Cuca, pegou a cabeça da cachorrinha com as suas duas mãozinhas e olhou bem
dentro dos olhos dela.
_ Cuca, quero que você ache a Sonjinha,
o Dunguinha, o Virgulino e o Elvis, que sumiram. Ninguém sabe onde eles
estão. Você pode encontrá-los pra mim? – falou a Ana Maria.
_ Au, au, au! – respondeu a Cuca.
A cachorrinha, então, colocou o focinho
no chão e saiu em busca de uma pista. Ela vinha e voltava, vinha e
voltava com o focinho quase arrastando no chão e a cauda levantada. Até
que ela foi seguindo para o final da rua, onde parou em frente à casa de um tal
Ubaldo Canastra, que havia se mudado há poucas semanas para o bairro.
A Cuca ficou de pé
com as patinhas da frente apoiadas no muro da casa. Ela estava inquieta,
o rabinho agitado, mas não latia para não chamar a atenção do dono da
casa. A Cuca era danadinha, mas também não era boba.
A criançada correu até onde a Cuca
estava. Jujuba foi a primeira a falar.
_ Galera, os gatinhos estão aí
dentro! Vamos entrar e pegá-los!
_ Não podemos fazer isso, Jujuba.
Quem mora aí é aquele homem estranho, o tal Ubaldo Canastra – disse a Taís.
_ A Taís tem razão. Precisamos
bolar um plano para salvar nossos amiguinhos – disse a Amanda.
Então, a Gabriela, que você já sabe que
era mandona e curiosa, convocou toda a galerinha para uma reunião
secreta. Só que quando todos já estavam na tal reunião secreta, a mãe da
Gabriela a chamou para almoçar. Não demorou muito e todas a mães, pais,
avós, avôs, tias e tios da criançada apareceram na rua para avisar que o almoço
já estava na mesa.
Capítulo IV
O plano
Após o almoço, a gurizada foi saindo de
casa. Primeiro foram as gêmeas Ana Maria e Mariana, depois a Jujuba, a
Taís, a Gabriela, o Diogo, a Amanda, enfim, todos, menos um, o Iago. Bem,
o Iago demorou porque ele é meio guloso. Também, naquele dia tinha feijoada
e o Iago adora comer o feijão da sua avó. Aliás, o Iago come de tudo,
dizem que até sopa de pedra!
Depois de esperar pelo amiguinho
guloso, a criançada finalmente viu surgir o Iago, que vinha coçando a barriga
de satisfação.
_ Ah, que feijoada deliciosa! – disse o
glutão.
_ Puxa, até que enfim você apareceu,
Iago – protestou a Gabi.
_ É mesmo, Iago. A gente só estava
esperando você pra começar a reunião – disse a Jujuba.
Então, a reunião teve início com as
palavras da Gabriela.
_ Amiguinhos e amiguinhas, debaixo desta
linda castanheira digo que a reunião comece. A pauta é o salvamento dos
nossos amiguinhos gatinhos – disse a mandona.
A Mariana levantou a mão para
falar. A Gabriela olhou para ela e falou para todos prestarem atenção nas
palavras da colega.
_ Meus amiguinhos, minha irmã e eu
tivemos uma ideia para salvar os gatinhos. Olha, um de nós vai ficar
vigiando a casa do Ubaldo Canastra. Quando ele sair, a gente pula o muro
e entra na casa dele. Aí, a gente pega os nossos amiguinhos e fugimos –
disse a Mariana.
_ Boa! – concordou a Jujuba.
_ Mas e se ele aparecer de repente? –
quis saber o Diogo.
_ Bem, é só deixar alguém vigiando a
rua. Quando o Ubaldo Canastra aparecer, quem ficar de vigia avisa os que
entrarem na casa – explicou a Mariana.
_ Legal! – disse a Jujuba.
_ É, acho que o plano das gêmeas vai
funcionar – concordou a Taís.
Então, a Gabriela perguntou se todos
estavam de acordo com o plano, e ninguém foi contra. A mandona continuou
a falar.
_ Iago, você vai ficar vigiando a casa
do Ubaldo Canastra. Assim que ele sair, você avisa a gente.
_ Puxa, tudo eu, tudo eu – resmungou o
Iago.
_ E quem vai entrar na casa? – perguntou
a Amanda.
_ Eu, a Aninha, a Mariana, a Jujuba e a
Taís – respondeu a Gabriela.
E assim ficou acertado o plano de
resgate dos quatro gatinhos. Mas como o dia foi passando e nada do Ubaldo
Canastra sair de casa, a garotada resolveu brincar de queimado. E o tempo
foi passando, passando, até que as mamães, os papais, as avós, os avôs, as
titias e os titios foram chamando a criançada para entrar. Brincadeira só
no outro dia!
Capítulo V
O resgate
Domingo! O primeiro a sair à rua
foi o Diogo. Ele estava brincando de rodar pião. Logo chegou a
Jujuba, que brincou um pouco também. Depois apareceram a Taís e a
Gabriela quase ao mesmo tempo. A criançada foi chegando aos poucos, mas
ainda faltava um. E você pode adivinhar quem era esse retardatário?
Pois é, era o guloso do Iago, que não se contentava com um pão. Ele come
pelo menos três! E olha que ele é magrinho que nem palito!
E brinca daqui, brinca dali... A
meninada estava com todo gás esse dia. E o Iago, mesmo brincando, não
desgrudava os olhos de jabuticaba madura da casa lá no final da rua, onde
morava o tal Ubaldo Canastra.
Ih, agora me lembrei que não disse como
era esse tal Ubaldo Canastra. Pois bem, ele é um homem de mais de 1,80
metro de altura, pelo menos uns cem quilos ou mais, mãos enormes com dedos
grossos, as unhas são tão grandes e cheias de sujeira, é calvo e o pouco dos
cabelos que lhe restam são quase pretos. Tem um enorme nariz de batata e
sua pele é branca encardida de terra. Seus olhos são maiores do que os de
uma coruja e sua boca mais fedorenta que um penico. Pois é assim mesmo
esse Ubaldo Canastra!
De repente o Iago começou a pular e
apontar para o final da rua. Mas ele não conseguia dizer coisa com
coisa. Teve criança até que achou que o guloso da rua tinha pirado.
Também teve uma menina, acho até que foi a Jujuba, que achou que o Iago
estivesse com dor de barriga.
_ O que foi, Iago? – perguntou a
Gabriela.
_ E...e... ele saiu! – gaguejou o
guloso.
_ Ele quem, Iago? – quis saber a Jujuba.
_ O... o... Ubal... Ubaldo
Canastra! – finalmente falou o Iago.
_ Vamos turma! Temos de agir o
mais rápido possível – disse a Gabriela.
Enquanto a criançada corria para frente
da casa do Ubaldo Canastra, a Ana Maria e a Mariana correram para o lado
oposto. A Gabriela não entendeu e as chamou.
_ Ei, Ana Maria! Ei,
Mariana! Aonde vocês estão indo? – falou a Gabriela.
_ Vão indo na frente. A gente só
vai pegar umas coisas lá em casa. Logo estaremos com vocês – respondeu a
Mariana.
Então, a criançada ficou em frente à casa do Ubaldo
Canastra. Em menos de cinco minutos apareceram as gêmeas carregando um
balde e cinco ratoeiras.
_ Pra que vocês trouxeram essas coisas?
– quis saber a Gabriela.
_ Depois a gente fala. Agora
precisamos agir o mais rápido possível – disse a Ana Maria, já pulando o muro
da casa do Ubaldo Canastra.
Então, a Mariana passou o balde e as
ratoeiras para a sua irmã. Depois também pulou o muro. Vieram atrás
dela a Gabriela, a Jujuba e a Taís. As outras crianças ficaram ajudando o
Iago a ver se o Ubaldo estava voltando.
A porta da frente estava fechada.
Então, as gêmeas tiveram a ideia de olharem se a porta dos fundos estava
aberta. As cinco meninas deram a volta na casa. A porta de trás
também estava trancada. Mas havia uma janela aberta, só que era um pouco
alta para as meninas.
_ Puxa, e agora? – falou uma desanimada
Jujuba.
_ Já sei! Já sei! – disse a Taís.
_ O que você já sabe, Taís? – perguntou
a Gabriela.
_ Olha, a gente vai fazer uma pirâmide
humana! Eu já vi isso no circo – respondeu a Taís.
_ Pirâmide humana? Mas o que é
isso? – quis saber a Jujuba.
_ Pirâmide humana é o seguinte: a gente vai subindo uma em
cima da outra até ficar bem alta. Entendeu? – respondeu mais uma vez a
Taís.
_ E isso vai dar certo? – perguntou a
Gabriela.
_ Só saberemos tentando – disse a Ana
Maria.
Como a Gabriela era a mais velha e mais
forte, ela ficou sendo a base da pirâmide. Então, ela encostou o corpo na
parede da casa e falou para a Jujuba subir nos seus ombros. Ajudada pelas
outras meninas, a Jujuba conseguiu ficar em cima da Gabriela. Depois foi
a vez da Ana Maria subir nos ombros da Juliana. Ela foi ajudada pela Taís
e pela Mariana. Com bastante esforço ela conseguiu.
_ Vai logo, Ana Maria, pula logo a
janela, pois não estou aguentando todo esse peso – disse a Gabriela.
A Ana Maria não perdeu tempo e entrou na
casa através da janela. Ela estava no quarto do Ubaldo Canastra.
Estava tudo escuro, apesar de ainda ser dia. É que as cortinas estavam
todas fechadas. Tratou logo de descer a escada da casa de dois andares e
foi abrir a porta de trás para a sua irmã e as suas amigas entrarem. Por
sorte a chave estava na porta.
Assim que as meninas colocaram os pés na
casa, ouviram um barulho...
_ Miaaauuuuuu!
_ É a Sonjinha!!! – explodiu de alegria a
Mariana.
_ Acho que o som veio dali – disse a
Taís.
As meninas foram andando sempre de mãos
dadas pela sinistra casa. Os miados continuaram, agora mais fortes, agora
de todos os quatro gatinhos. Finalmente descobriram onde o malvado Ubaldo
Canastra os havia escondido: presos numa gaiola dentro do banheiro.
Assim que os gatinhos viram as corajosas
meninas, eles começaram a miar, principalmente a Sonjinha e o Dunguinha.
As garotas soltaram os gatinhos. A Gabriela pegou o Elvis no colo, a
Jujuba ficou com o Virgulino, a Taís carregou a Sonjinha e o Dunguinha.
_ Meninas, vocês vão indo na
frente. A gente tem de preparar uma surpresa pra esse malvado Ubaldo
Canastra – disse a Ana Maria.
_ O que vocês vão fazer? – quis saber a
Gabriela.
_ Depois você vai saber – disse a
Mariana.
As amigas das gêmeas, então, saíram da
casa carregando todos os gatinhos. Lá fora estavam as outras crianças
esperando ansiosas pelas cinco meninas. Mas só apareceram três.
_ Onde estão as gêmeas? – perguntaram
todos quase ao mesmo tempo.
_ Elas já estão vindo. Foram
preparar uma surpresa pro Ubaldo Canastra – explicou a Gabriela.
O tempo foi passando, passando...
Dez minutos! Quinze minutos! Vinte minutos!
_ O Ubaldo Canastra está voltando,
galera! – anunciou o Iago.
_ Temos de avisar as gêmeas! – disse a
Jujuba.
Mas não foi preciso chamá-las, pois
antes mesmo do malvado raptor de gatinhos aparecer na rua, as duas irmãs saíram
triunfantes da casa. Aí, todos correram para debaixo da amendoeira que
ficava em frente à casa da jujuba.
_ O que vocês fizeram lá dentro? –
perguntou o Iago.
_ A gente colocou água no balde.
Depois o pusemos em cima da porta do quarto do Ubaldo. E espalhamos as
ratoeiras pelo chão – respondeu a Ana Maria.
_ Ué, mas pra que vocês fizeram isso? –
perguntou a Amanda.
Mas antes que uma das gêmeas
respondesse, a criançada ouviu vários gritos vindos da casa do final da
rua. Logo após surgiu o malvado Ubaldo Canastra todo molhado e com cinco
ratoeiras penduradas pelo corpo: uma em cada mão, uma em cada orelha e uma
pendurada no nariz de batata. A criançada caiu na gargalhada. E
essa foi a última vez que todos naquela rua viram aquele homem malvado que,
segundo as pessoas, pegava gatinhos para fazer churrasquinho e
tamborim.
As duas irmãs continuam morando na mesma
rua, uma rua sem saída, num bairro bem distante, numa cidade bem grande, num
país chamado Brasil. Talvez seja até uma rua bem parecida com a sua.
Fim
- Nota de esclarecimento: O conto "O mistério da rua sem saída" saiu no formato de folhetim pelo Notibras entre os dias 18/06/2023 e 23/06/2023. Foi feita pequena alteração no texto, a pedido da redação do jornal, para que a história se passasse no Distrito Federal. Todavia, quando foi escrita, foi inspirada na rua Costa do Marfim, localizada na cidade do Rio de Janeiro. Todas as crianças retratadas nesse conto são reais, inclusive a grande parte dos animais.
- 1) https://www.notibras.com/site/quadra-famosa-das-gemeas-amigos-gato-cao/
- 2) https://www.notibras.com/site/meninada-atira-pau-no-gato-e-virgulino-some/
- 3) https://www.notibras.com/site/antes-da-cobra-cega-somem-mais-dois-gatos/
- 4) https://www.notibras.com/site/suspeito-fica-em-casa-e-plano-de-resgate-e-adiado/
- 5) https://www.notibras.com/site/ratoeiras-ficam-presas-em-ubaldo-e-gatos-livres/