_ Caiu.
_ Quando?
_ Ontem.
_ Cadê?
_ Guardei num saquinho.
_ Vai fazer o quê?
_ Ainda não decidi.
_ Cuidado!
_ Cuidado com o quê?
_ Pro rato não comer.
_ Que rato? Comer o quê?
_ O umbigo.
_ Por quê?
_ Se o rato comer, vira ladrão.
_ Quem?
_ Quem o quê?
_ Quem vira ladrão? O rato ou a criança?
_ A criança.
_ Besteira!
A vizinha bebericou um pouco do chá de camomila, enquanto a recém-parida a encarava. Era óbvio o seu incômodo com aquela história de rato devorador de umbigos. Onde já se viu tamanho disparate? Tolice de gente que não tem o que fazer. Que vá levar mau agouro para bem longe!
Terminado o chá, a vizinha disse que precisava ir, pois ainda passaria na mercearia do seu Oliva. Coisa pouca, um quilo de arroz e algumas cebolas. As duas se despediram com promessas de novos encontros. Breves, por assim dizer.
Mal fechou a porta, a mulher soltou um palavrão. Na verdade, foram dois ou três, mas que não vale a pena mencioná-los. Coisas de puerpério. Entretanto, calejada que era, bem sabia que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
A mulher foi direto para o quarto. Catou o saquinho com o umbigo e tratou logo de trancafiá-lo no cofre. Com o filho no colo, lançou um olhar de onça brava para a fresta debaixo da porta.
_ Agora quero ver algum rato pegar o umbigo do meu menino!
- Nota de esclarecimento: O conto "A vizinha, o rato e o umbigo" foi publicado por Notibras no dia 11/12/2023.
- https://www.notibras.com/site/a-historia-da-vizinha-o-rato-e-o-umbigo/
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