Enquanto coloco a água na chaleira, sinto os primeiros raios do Sol, ao mesmo tempo em que a Alaíde me sopra "Aurorear". Meu corpo rijo tenta um gingar que não tenho, mas não estou nem aí. Imagino a Alaíde rindo aquele sorriso lindo e se divertindo com a minha falta de jeito. Ela me entende, certa de que sabe o que meus calos dizem sobre mim.
Se eu acordo tristonho por conta de pontapés da vida, eis que essa voz graciosa me ensina que o céu tem pecado, o inferno é divertido. A Alaíde, do alto da sua sapiência, me diz para eu ser quem sou. Pois é, não posso desprezar tamanho conselho, ainda mais porque as primeiras bolhas anunciam que é hora de tirar a chaleira do fogo.
Despejo o líquido da vida sobre o pó que preenche o coador de pano. O cheiro toma conta da cozinha, enquanto imagino a minha cantora piscando ao lado. Parece que ela também quer provar a iguaria.
Não tenho dúvida e, então, coloco o café em duas xícaras, enquanto a música se espalha por todo o apartamento. Eu me sento à mesa, certo de que a Alaíde está ali na minha frente, também sentada. Toda graciosa, ela toca a asa da xícara e, em seguida, sorve um tiquinho. Eu repito o seu gesto, mas algo me desperta desse sonho. Minha esposa, a Dona Irene, está logo atrás de mim: "Hum, adoro quando você prepara esse café delicioso pra mim!"
- Nota de esclarecimento: A crônica "Alaíde Costa e meu café gourmet" foi publicada pelo Notibras em 29/04/2023. Por conta de solicitação da redação do jornal, foi feita uma pequena alteração no texto, que deixou de citar que a história se passa em Porto Alegre.
- https://www.notibras.com/site/alaide-costa-deixa-cafe-gourmet-mais-saboroso/
- A crônica "Alaíde Costa e meu café gourmet" faz parte de "Embalos Literários - coletânea de textos baseados em músicas" da editora Persona.
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